
Miguel Lucena
Tem coisa que nem o mais criativo roteirista de série policial conseguiria imaginar. Quem diria que, um dia, na fronteira entre Tijuana e San Diego, os agentes alfandegários trocariam os farejadores de drogas por farejadores de omelete?
Sim, o novo Breaking Bad é Breaking Eggs.
Enquanto o fentanil perde mercado, os ovos viraram o ouro branco da fronteira. A inflação bateu tão forte na caixinha de dúzia que agora ela vem com colete à prova de balas. E o Trump, que um dia prometeu construir um muro para barrar traficantes, deve estar arrancando os cabelos: ninguém avisou que o perigo real era um senhorzinho mexicano atravessando com meia dúzia de ovos escondidos no chapéu.
As operações da Receita Federal americana agora têm nomes como “Operação Gema Segura” e “Missão Clara do Dia”. Cachorros que antes detectavam cocaína agora latem feito doidos na frente de uma quiche.
Tem até quadrilha especializada. Os cartónels – como estão sendo chamados nas redes – dominam rotas clandestinas, usam codinomes como Huevito, El Gallinero e La Tortilla. São especialistas em esconder ovos nos lugares mais inusitados: fundos falsos de carros, dentro de ursinhos de pelúcia, e até em cintas modeladoras que transformam qualquer pessoa numa galinha chocadeira ambulante.
E aí você pensa: mas por que isso? Porque nos Estados Unidos, um ovo tá valendo mais que um lanche gourmet. Dizem que teve americano trocando a aliança de casamento por uma omelete com cheddar.
Mas veja bem: o crime não compensa. Quem for pego com ovos demais pode acabar no xilindró por tráfico de proteína de origem duvidosa. E convenhamos, seria estranho explicar na cadeia que você está ali não por heroína, mas por um “cargamento clandestino de caipiras”.
Enfim, estamos vivendo a era do crime com colesterol. Se continuar assim, não vai demorar muito para surgir uma série: Narcohuevos. E que o protagonista não se esqueça: em tempos de escassez, quem tem ovo é rei.