Maria José Rocha Lima[1]
“Dita o senso comum que quem já exerceu mandato de deputado automaticamente ganha o paraíso, mas a história mostra que não é bem assim, muitos, pelo contrário, vivenciam histórias dramáticas”.
Levi Vasconcelos
A epígrafe, retirada do texto do jornalista baiano Levi Vasconcelos, do Jornal A Tarde, de 30/06/2018, expõe a dramática situação vivida por ex- deputados baianos. Em conversa com o colega Otoniel Saraiva, presidente da Associação dos Ex – Deputados da Bahia – Assed – BA, sobre o custo das campanhas políticas em valores astronômicos, nos fez concluir o quanto é minguada a tal democracia, já restrita, no nosso país.
Levi Vasconcelos, um veterano no jornalismo baiano, desmistifica “o dito do senso comum que quem já exerceu mandato de deputado automaticamente ganha o paraíso, mas a história mostra que não é bem assim, muitos, pelo contrário, vivdnciam histórias dramáticas”. Concluímos o quanto a democracia, principalmente na Bahia, vem ficando cada vez mais restritiva, fechada, autocrática. Há ex- deputados baianos passando necessidades. São aqueles deputados que não têm intimidade com os poderosos, não privam de intimidade com “a casa grande”. São aqueles que não pertenciam àquela minoria privilegiada: em termos de riqueza, em primeiro lugar; em termos de poder, por serem egressos de famílias de oligarcas, em segundo lugar, e, em termos de saber, em terceiro lugar. Acresce-se a tudo isso o atual poder dos dirigentes partidários, que com bilhões nas mãos concentram ultrapoderes. Nessa situação se encontram muitos ex- parlamentares que não participaram dos jogos políticos inconfessáveis, mantiveram-se na quase impossível independência política e foram desprestigiados. Porque não há uma cultura cívica no Brasil. O país é “enfermo de desigualdades”, como dizia Darci Ribeiro. É a democracia do ou dá ou desce!
Voltando ao relato de Levi Vasconcelos: “Deputado de 1995 a 1999 pelo PSDB, Otoniel Saraiva, presidente da Associação dos Ex – Deputados da Bahia – Assed – BA –, fundou a associação para fazer algum elo de prestígio entre o passado e o mundo atual, justamente para tentar buscar um tratamento mais digno, mas o cenário é bem pior do que ele imaginava. Otoniel Saraiva queixou-se ao Presidente da ALBA, Angelo Coronel, sobre o tratamento, nada prestigioso, dado aos ex – deputados e aí nasceu a ASSED-BA.
A partir do relato de Saraiva, Levi Vasconcelos destaca que a questão não é somente de resgate da participação histórica, mas para alguns ex- parlamentares é necessário um auxílio fraterno. Saraiva conta que enfrentou uma situação inimaginável de ex- parlamentares vendendo bugingangas, houve um caso no qual o ex- deputado Ewerton Almeida e Emério Resedá se juntaram para pagar uma dívida de R$ 2 mil. Segundo Saraiva, é um cenário desalentador. Nos últimos 40 anos, a Bahia teve 690 deputados, destes 300 estão vivos. As 300 viúvas restantes também passam dificuldades: – A barra é pesada.
Confessa Otoniel: “Tem horas que dá vontade de desistir”.
Eu conclui que alguém como Otoniel, que exerceu um mandato de deputado, matando um leão por dia, não desistiria e acertei: em 2019, ganhou um novo espaço na Assembleia Legislativa da Bahia –ALBA- para a Associação dos Ex – Deputados da Bahia – Assed – BA, inaugurado pelo presidente da ALBA. O evento foi muito prestigiado, teve cobertura inclusive da Gazeta dos Municípios, ampliando informação para o interior do estado. Contou com a participação de muitos ex- deputados, com a presença do senador Otto Alencar, grande número dos atuais parlamentares, servidores da casa e familiares de ex – deputados. E contou ainda com a representante dos vereadores baianos, Edylene Ferreira, que agradeceu pela valorização dos legisladores municipais.
Otoniel Saraiva falou da alegria de contar com o apoio do Presidente da ALBA e pelo reconhecimento do trabalho desenvolvido pelos ex- deputados. Caso não haja projeto educativo na ALBA, proponho que seja criado pela ASSED-BA, tal como existe na Câmara Federal, O Plenarinho da ALBA, que são visitas agendadas de crianças e jovens de escolas públicas para que conheçam o espaço e prerrogativas do Poder Legislativo baiano e a história de deputados que prestaram relevantes serviços à Bahia. Aqui, fica ainda a sugestão de reproduzir o programa Parlamento Jovem Brasileiro, na ASSED-BA, como Parlamento Jovem Baiano, que permitirá que estudantes de escolas públicas e particulares de todo o estado conheçam e vivenciem a rotina dos trabalhos legislativos na Assembleia Legislativa, despertando uma reflexão sobre a representação política.
[1] MARIA JOSÉ ROCHA LIMA é mestre em educação pela Universidade Federal da Bahia e doutora em psicanálise. Foi deputada de 1991 a 1999. É presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista e dirigente da ABEPP. Coordenadora do Programa Sonhe Realize do Soroptimist International – SI Brasília Sudoeste