Miguel Lucena*
Quando a mídia quer chamar a atenção para determinado assunto, ignora completamente outros de igual relevância, levando as pessoas comuns a aceitarem a pauta como o assunto principal da sociedade.
Reportagens seguidas sobre feminicídio dão a impressão de que as mulheres do Distrito Federal estão sendo mortas diariamente pelos maridos, companheiros ou amantes.
Um homem transtornado invadiu o trabalho da ex-namorada, na manhã desta segunda-feira, dia 20, em Brasília, matou-a com um tiro no rosto e em seguida se suicidou, com um disparo na boca. Quem lê apenas a manchete fica achando que somente a mulher morreu pelas mãos do homem, também vítima dos problemas que afligem os seres humanos, como os ciúmes doentios, as humilhações sofridas pelos antigos provedores diante da pressão dos familiares pela manutenção do padrão de vida perdido ao longo dos anos, os assédios morais no ambiente laboral e a falta de reconhecimento pelo papel de cada um na sociedade.
O feminicídio é um crime horrendo, porquanto praticado por alguém muito próximo da vítima, mas o suicídio ocorre com mais frequência, vivemos uma catástrofe no Distrito Federal, com mais de mil suicídios por ano, e quase ninguém se pronuncia sobre o fato. A falta de pressão leva o Estado a negligenciar os programas de prevenção, largados por conta de entidades privadas que se dedicam a salvar vidas diariamente.
De janeiro a maio, ocorreram nove feminicídios no DF. Ano passado, foram registrados 29, entre 400 homicídios e mais de mil suicídios.
Entendo que a discussão sobre a violência doméstica é fundamental, porque atinge a família e causa traumas permanentes, mas sugiro que o episódio de hoje acenda o sinal de alerta das autoridades para as mortes silenciosas que ninguém divulga e arrasam inúmeras famílias. Os suicidas também precisam de socorro.