*Miguel Lucena
Quem botou na cabeça das pessoas que elas têm merecimentos sem esforços?
– Se fulana comprou um carro novo, botou peito, botou bunda, adquiriu um metro de cabelo, por que eu não posso? Eu não mereço?
A ausência da discussão sobre a quantidade de esforço dispendido para alcançar certos objetivos elimina totalmente o mérito – é como se o merecimento fosse uma categoria abstrata: eu mereço também, e pronto!
Até para dar golpes, é preciso ter mérito, uma certa inteligência diabólica, um grau de psicopatia que leve o infrator a se arriscar sem medo de de fazer o mal e sem remorsos.
Apareceram, porém, uns filósofos de Tik Tok e uns autores de letras superficiais que dizem que as pessoas merecem ser valorizadas sem mérito, só pelo fato de existirem – e essa valorização deve sempre ser bancada por outros, os que eles invejam, porque estudaram, deixaram de ir às baladas e queimaram as pestanas em livros para passar em concursos ou conquistar posições no mercado. Estes viraram o alvo da cobiça, aqueles que os sem mérito sonham em depenar.