
Miguel Lucena
Brasília, noite fria, pizzas saindo do forno da Baco como promessas de campanha: quentes, cheirosas e logo devoradas. À minha volta, deputados, jornalistas, lobistas e alguns arrependidos tentando parecer discretos. Eis que, na mesa ao lado, três políticos paraibanos, ainda na fase juvenil do poder – aquele tempo em que a ambição ainda tem acne – pedem a conta.
O garçom chega e o inusitado acontece: os cabras puxam maços de dinheiro do bolso como quem saca um revólver em duelo. Cédulas graúdas, novinhas, saindo dos paletós como se fossem panfletos eleitorais. Nem tentaram disfarçar com um cartão ou um sorriso. Aquilo era ostentação com sotaque e cheiro de couro novo.
Comentei com meus amigos: “No meu tempo, a gente puxava nota pela orelha, enroladinha, suada, pra ninguém botar o olho gordo. Hoje, parece que querem é o olho inteiro em cima.” Um deles ainda disse que os meninos estavam só “mostrando serviço”, o que em Brasília significa mostrar que têm verba.
O tempo passou, e os três rapazes subiram na vida pública. Um continuou como deputado, o outro virou senador, e o terceiro manda nos dois — com aquele jeito de quem já pagava a conta lá atrás, mas queria mesmo era escolher o sabor da pizza e a pauta do dia.
Brasília é isso: um grande rodízio de poder, onde quem paga a conta nunca é quem come a última fatia.