Maria José Rocha Lima*
“Obrigado, Professora Terezinha de Dedé de Vital!”, agradece-lhe o médico Arnaldo Bernadino Alves. Dona Terezinha foi sua professora primária na Escola Isolda Maturi, no município de Janduís, no Rio Grande do Norte.
Eu e o doutor Arnaldo Bernadino, ex-secretário de Saúde do DF, conversávamos, durante uma consulta, sobre o baixo nível de ensino no país, sobre os jovens universitários que, ao preencherem formulários, não sabem sequer a diferença entre naturalidade e nacionalidade, além de outros tantos erros inconcebíveis.
Lembramos das professoras das nossas infâncias, nossas competentes e devotadas professoras primárias.
Ele comentou: “Me lembro com carinho da professora Terezinha de Dedé de Vital, a professora dos meus três primeiros anos, na escola rural. Ela me fez gostar de ler, com leituras em voz alta, me desafiando cada dia. Saudade é a palavra mais certa para falar de Dona Terezinha. A classe era multisseriada, mas ela adotou uma estratégia: dividia as turmas, em rodízio: a turma dos que ainda não sabiam ler e escrever; dos que já sabiam, mas claudicavam; e dos plenamente alfabetizados, que estavam lendo com fluência e escrevendo ortograficamente, que são degraus a mais”. Disse mais: “Eu assistia todas as aulas que antecediam as minhas e, assim, ia reforçando os meus conhecimentos. Certa vez dei uma cola para uma garotinha, de outra turma, pela qual estava encantado, o que me rendeu, pela primeira e única vez, uma punição. Por causa daquela menina, tive de copiar todos os estados da federação com as suas capitais”.
Nas reuniões de pais e mestres, das quais participavam, sempre, seu pai e sua mãe, a professora sempre lhe tomava como exemplo e apelava: “Gente, faça como seu Abdias e Dona Mariana, que acompanham o desempenho do seu filho Arnaldo. Um menino nota dez, nunca faltou uma aula, acompanha todas as atividades com atenção e nunca esqueceu um dever de casa, que realiza com muito esmero”. E ele, sentado do lado de fora da sala num banquinho, escutava os elogios. Ela dizia: “Esse menino vai longe!”. E ele pensava: “Longe… deve ser em um lugar que tem mar, porque lá tem Faculdade. A minha prestigiada professora primária era profética. Comecei a pensar em ir longe, para um estado, onde tivesse mar, porque, se tiver mar, tem universidade. Com quinze anos fui em busca do mar, fui para Maceió, estudei Medicina na Universidade Federal de Alagoas –UFAL”.
No Dicionário dos Símbolos, de Chevalier e Gheerbrant (1992), de concepção junguiana, a água é um dos símbolos com maior número de significados, fonte de vida, meio de purificação e centro de regeneração. Símbolo da dinâmica da vida. A mãe. Tudo sai do mar e tudo retorna a ele: lugar dos nascimentos, das transformações e dos renascimentos. Águas em movimento! Assim, iniciamos o mês dos professores homenageando as professoras das nossas infâncias, com visão de futuro, confiantes nos seus magistérios, com elevada autoestima e generosidade para profetizar o sucesso dos seus alunos.