Maria José Rocha Lima[1]
A professora Therezamaria tem sido reconhecida como a Sherazade do Cerrado. Durante mais de três décadas, Therezamaria, contadora de histórias, encanta as plateias com a sua maestria: ativa, ágil e vaidosa elegante. Para a jornalista Cintia Dutra, do Correio Braziliense, ela é a Sherazade do Cerrado.
A contadora de histórias engana o tempo com sua aparência e vivacidade. Ao entrar para a reserva, como ela chama a aposentadoria, fez um curso para contadores de histórias e passou a se dedicar à expressão de uma de suas maiores paixões: as palavras.
Dependendo do dia e do momento, ela causa efeitos diferentes. Nós, contadores de histórias, somos valorizadores das palavras, somos livros vivos. Não nos preocupamos com adereços, mas com a palavra. A contadora, com entonação emocionada, liberta as palavras guardadas de cor. Diz ela: “Eu incorporo e desligo do mundo. Viro a menina, o coelho, a galinha, a águia, todos os personagens das histórias que conto. Meu filho mais velho diz que eu surto nesses momentos”.
Ao narrar, a professora dá cadência e personalidade para cada palavra, como se declamasse uma poesia, sem nunca perder contato visual com os ouvintes: “A gente também fala com o olhar. Pela expressão de cada um, eu sei dizer quem entrou na fantasia e se identificou com a história”. É impressionante o peso, força e cor que ela dá a cada palavra. “A palavra é iluminada, grávida de significados, ela filosofa”, segundo Cíntia Dutra.
Nesse trabalho como contadora de histórias, Therezamaria já perdeu as contas de quantas foram as oficinas realizadas. Em escolas, instituições de ensino superior, tribunais, xasas legislativas, empresas e Organizações Governamentais e Não Governamentais, algumas vezes numa belíssima e harmoniosa parceria com a grande jornalista e escritora Dad Squarisi (in memoriam).
Para a nossa imensa honra, contamos com a sua notável atuação no Projeto de Alfabetização para Gostar de Ler e Escrever Pensando, da Casa da Educação Anísio Teixeira. Therezamaria, nessas três décadas, formou dezenas de contadores de histórias, eram meninos e meninas que tinham poucas oportunidades de leituras e hoje são advogados, médicos, professores e alguns praticam a arte da mestra.
Therezamaria, que nasceu no Rio de Janeiro e veio para Brasília em 1963, já perdeu as contas das pessoas que foram alcançadas e o número de pessoas transformadas pelas suas narrativas autorais ou do ideário popular. Ela própria, quando conta histórias, parece ser transportada para um mundo longínquo e imaginário.
Na semana passada, numa visita que lhe fiz, na sua residência, durante uma conversa sobre os trabalhos que realizamos com meninas e mulheres, com suas belíssimas declamações, contações, tive o privilégio de ouvi-la contar, com toda a sua força poética, estética e emocional, a notável fábula da águia que virou galinha. Vivi uma verdadeira epifania.
Maria José Rocha Lima é mestre em educação pala Universidade Federal da Bahia. Doutora em Psicanálise. Foi deputada de 1991-1999. Fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira. Soroptimist International- SI Brasília Sudoeste.