Maria José Rocha Lima*
Há alguns dias encontrei um texto, publicado na Internet, acho que foi no Instituto Histórico e Geográfico da Bahia. O texto tinha o título Professores Inesquecíveis. E lá estava, justamente, uma homenagem ao professor José Maria da Costa Vargens.
O professor doutor José Maria da Costa Vargens, além de professor inesquecível para os seus alunos, foi um benfeitor, um instrumento de Deus, na minha vida. Eu tinha iniciado o curso de Biologia na UFBA e era colega de Martha Maria Lima da Costa Vargens, que era casada com o filho do doutor José Maria da Costa Vargens. Certo dia eu apareci na televisão, numa entrevista sobre professores baianos, e minha colega deve ter falado sobre a minha vida difícil, de moça pobre, arrimo de família e militante política. Eu suponho que Martha deve ter-lhe dito que eu estava para me casar com um também colega dela, Luís Eduardo Portela Monteiro de Sousa, um rapaz também de família abastada, mas que estava ressabiada com os casamentos de primos de Luís Eduardo com moças pobres comunistas, que os levaram para a guerrilha do Araguaia. Talvez por isso, não se entusiasmassem com o casamento, com mais uma suposta comunista que aparecia na família. E não tinha como saber, porque o partido comunista, naquela época, ainda era clandestino. Pois o doutor José Maria da Costa Vargens, muito satisfeito com a minha atuação sindical e militância política em defesa dos professores e da educação, para me ajudar, disponibilizou um dos seus imóveis, onde antes morava Martha e seu filho João, para nós morarmos por quanto tempo desejássemos e sem nada pagar.
O apartamento era incrível: muitos quartos, suíte, moveis planejados, enfim, um sonho. Eu fiquei encantada, afinal é raro que pessoas comuns como eu consigam uma residência tão bonita. Zeinho, meu irmão, de tão maravilhado, toda manhã, ao acordar, gritava da janela imitando um som de pássaro e cantando a música “Cabocla”.
Anos depois, deixei o apartamento do doutor José Maria da Costa Vargens e agora tantos anos passados quero agradecer-lhe na terra ou no céu. E singelamente homenageá-lo, porque o senhor abriu portas, promoveu esperanças e me impulsionou na luta pela educação na Bahia, que resultou na minha eleição por dois mandatos, sendo a mais votada da oposição baiana.
Lembrei-me que na época minha mãe falou: – Filha, o doutor José Maria é um instrumento de Deus, é a mão de Deus na sua vida.
Obrigada, professor José Maria da Costa Vargens, o senhor fez parte da minha história e da luta da educação na Bahia!
*Maria José Rocha lima é professora, mestre em educação pela Universidade Federal da Bahia e doutora em psicanálise. Fundadora da Casa da Educação Anísio Teixeira. Soroptimist International.