Dados são de 2019 até este ano. De acordo com especialistas, a construção civil é um importante vetor da economia do DF e consegue inserir boa parte da população no mercado de trabalho, com potencial para aquecer a economia local
Com o salário mais alto, Maura Teodoro passou a investir nos estudos para conseguir cargos ainda melhores – (crédito: Fotos: Kayo Magalhães/CB/D.A Press)
Viadutos, pavimentação asfáltica, restauração de espaços. Em diversas regiões do Distrito Federal, as obras públicas estão a todo vapor, mantendo a cidade com a característica de “uma Brasília em construção”. Apesar dos transtornos que as intervenções causam à população, especialistas afirmam que elas podem ser enxergadas pelo viés de aquecimento da economia e geração de emprego. Dados mais recentes do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) mostram que, em maio de 2024, a construção civil gerou 79.788 postos de trabalho — 2 mil vagas a mais do que em janeiro.
O secretário de Obras do DF, Valter Casemiro, lembra que, desde 2019, as obras públicas geraram mais de 20 mil empregos na capital do país. “Além de recuperar a cidade e melhorar a qualidade de vida da população, elas são grandes geradoras de empregos diretos e indiretos. Isso gira a economia, aumenta as vendas do comércio e garante o sustento de muitas famílias”, comenta.
Presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil do Distrito Federal (Sinduscon-DF), Adalberto Valadão Júnior concorda que a construção civil é um importante vetor da economia do DF, com geração de emprego e renda. “O setor é responsável por 51,3% do PIB (Produto Interno Bruto) da indústria do DF, contribuindo, anualmente, com R$ 5,2 bilhões”, calcula.
Adalberto destaca que o DF tornou-se um verdadeiro “canteiro de obras” e, por isso, observa que o mercado da construção civil tende a crescer. “Analisando dados do Caged, verifica-se que, em 2023, havia 76.789 trabalhadores formais na nossa indústria, no DF, o que representa aumento de 8,5% em comparação a 2022”, pontua.
Empregabilidade
Coordenador do curso de engenharia civil do Centro Universitário Uniceplac, Thiago Primo afirma que construções de grande impacto têm o potencial de alavancar e aquecer o mercado financeiro. “Devido aos grandes desafios e às demandas que essas obras exigem, uma gama de colaboradores é solicitada para executar etapas dos projetos e isso permite a empregabilidade de vários profissionais, em áreas distintas”, aponta.
O especialista avalia que o cenário do DF se assemelha ao nacional, do ponto de vista do comportamento do mercado. “As obras de infraestrutura conseguem captar boa parcela da população disponível no mercado de trabalho, independentemente do aperfeiçoamento tecnológico, uma vez que muitos treinamentos são realizados dentro do próprio empreendimento. Existem vagas para todos os públicos”, comenta Primo.
Para o especialista, o crescimento do mercado impacta na busca por qualificação profissional. “A procura pela formação em cursos relacionados à área está em crescimento e com o potencial de mudar a realidade de muitos profissionais, devido ao salário e às possibilidades atrativas da profissão”, opina. “Além disso, estamos com escassez de profissionais disponíveis, uma vez que muitos foram absorvidos pelo mercado da construção civil ou pelos demais mercados que aproveitam as características de gestão e planejamento estratégico que essa formação dispõe”, acrescenta o coordenador.
Crescimento pessoal
Quem está se qualificando para evoluir ainda mais na carreira é a auxiliar de segurança do trabalho Maura Teodoro da Silva, 43 anos. A moradora de Valparaíso de Goiás, que está empregada na obra da Epig, conta que começou como auxiliar de limpeza e, com o tempo, foi subindo de cargo. “Com essa evolução, a parte financeira melhorou bastante e consegui desafogar as contas de casa, pagando algumas que estavam atrasadas, por exemplo, além de poder investir em mais estudos, para crescer ainda mais e almejar cargos ainda mais altos”, destaca.
Ela afirma que, antes de conseguir essa vaga, ficou dois meses desempregada. “Fiquei preocupada em não conseguir outro trabalho, mas graças a uma indicação arrumei essa vaga. Quando vim para cá, meus chefes perceberam que eu tinha capacidade e me promoveram para o cargo que estou atualmente”, ressalta Maura.
Outro que percebeu na construção civil uma grande oportunidade de emprego foi Ronilson Costa Martins, 35. Ele afirma que mora no DF há 13 anos e, antes de ser contratado para trabalhar, também na obra da Epig, estava apenas fazendo bicos. “Isso me deixava mais apertado em casa, pois nem todo dia o trabalho era certo”, lembra. “Aqui, com a carteira assinada, fico tranquilo em saber que estou com o emprego garantido”, comemora Ronilson.
Segundo o encarregado de carpintaria, que está trabalhando no canteiro há um ano e dois meses, além de conseguir o emprego, acabou sendo promovido nesse período, o que melhorou bastante suas finanças. “Antes, não conseguia ter uma vida social com a minha esposa e filho, vivia apenas para trabalhar. Agora, todo mês sobra um dinheiro para fazer alguma coisa com eles”, ressalta. Ele afirma que não tem medo de ficar desempregado, quando a obra em que está trabalhando terminar. “Vou conseguir outro trabalho, pois o DF está com muitas outras obras em andamento, o que colabora para a criação de vagas”, avalia.
Obras pelo DF
- Infraestrutura do Sol Nascente – Estão sendo realizados serviços de drenagem, pavimentação, sinalização viária, calçadas e bacias de detenção. O investimento total será de R$180 milhões, com geração de 360 empregos, entre diretos e indiretos;
- Corredor BRT na via Epig – O projeto do Corredor Eixo Oeste prevê uma série de benefícios para a infraestrutura de Brasília. As obras de requalificação da via EPIG preveem a implantação de faixa exclusiva para ônibus no sistema BRT, a construção de 9 viadutos, estações BRT, passagens para pedestre subterrâneas, sinalização viária, calçadas e ciclovias. Por questões de logística e segurança, as obras foram divididas em trechos. O investimento é de R$ 150 milhões, com a geração de 300 empregos, entre diretos e indiretos;
- Duplicação da via de ligação Guará/Bandeirante – A duplicação da via que liga a Estrada Parque Núcleo Bandeirante (EPNB) à Avenida Contorno, na altura da Quadra 38 do Guará, pretende melhorar o fluxo da região, principalmente nos horários de pico, além de trazer mobilidade com a construção de calçadas e ciclovias. O investimento é de R$ 11 milhões, com a geração de 80 empregos, entre diretos e indiretos;
- Infraestrutura da Colônia Agrícola Samambaia – Serão realizadas obras de drenagem, pavimentação e construção de calçadas. As principais vias contempladas com as obras serão a avenida Contorno, avenida Misericórdia e rua Flor da Índia. As obras devem estar finalizadas até 11 de junho de 2026. O investimento total será na ordem de R$ 60 milhões, com a geração de 200 empregos, entre diretos e indiretos;
- Corredor BRT no Setor Policial Sul – Na segunda etapa das obras de requalificação da Estrada Setor Policial Militar, conhecida como Setor Policial Sul, foram executados serviços de pavimentação, drenagem, sinalização, paisagismo, calçadas, ciclovias e execução de Bacia de Detenção. Investimento de R$ 50 milhões, com a geração de 200 empregos, entre diretos e indiretos.
Postos de trabalho em 2024
Janeiro 77.754
Fevereiro 78.633
Março 79.162
Abril 80.155
Maio 79.788