O coronel José Pereira Lima, que muitos desinformados chamam de cangaceiro, cursou o quarto ano de Direito e abandonou a Faculdade de Recife para assumir o comando político de Princesa, substituindo o pai, Coronel Marcolino, que morrera no começo do século XX.
Jovem, talentoso, bom de conversa, destemido, em pouco tempo José Pereira transformou-se no maior líder do sertão. E na Capital da Paraíba, onde passava temporadas como deputado, visitava os meios intelectuais e dava aulas de conhecimento aos chamados homens de letras. Até diretor de jornal foi.
Em 1930, porém, foi obrigado a romper com o Governo de João Pessoa, por não concordar com certas atitudes do presidente do Estado, que, a pretexto de promover renovação nos quadros políticos da Paraíba, elaborou uma chapa para a Câmara Federal, onde alijava gente como o ex-presidente João Suassuna, pai do intelectual Ariano Suassuna, para colocar no lugar parentes e aparentados.
Aí a guerra de Princesa começou com todo o gás. João Pessoa nomeou Zé Américo como seu secretário de segurança e mandou sua tropa invadir a terra de Zé Pereira. A ordem era massacrar os revoltosos em poucos dias, para que o atrevimento daqueles sertanejos não estimulasse outras revoltas.
O que se viu, no entanto, foi uma resistência heróica. Os homens do coronel impuseram derrotas históricas aos homens de João Pessoa. Nunca o território livre de Princesa foi invadido pela Polícia. Ela chegou pertinho, nas beiradas do município, mas não teve o gosto de entrar nas ruas de Princesa, tomar as armas dos revoltosos e hastear a bandeira na cumeeira do sobrado de Zé Pereira.
Janjão Amaral, naquela época um jovem tido e havido como valente graças às bravatas que contava, foi convocado para formar na linha de frente da resistência, ao lado de Ronco Grosso, Luiz do Triângulo e Cícero Bezerra.
Deram a ele um fuzil novinho, um terno de mescla azul marinho, as cartucheiras atravessadas no peito e o mandaram para a luta. Todos queriam ver o jovem guerreiro em ação, matando os invasores. A estréia se daria em Lajedo Bonito, pertinho de Tavares, onde as tropas de João Pessoa estavam sitiadas.
Sol de três horas da tarde, céu azul, sem nuvens, os urubus montando sentinela à espera do defunto a ser comido, a tropa da resistência entrincheirada entre os lajedos, todo mundo de fuzil apontado, com os dedos coçando. A polícia vem chegando, começa o tiroteio, todos atirando, e Janjão sem disparar um traque.
-Atira, Janjão! – gritava Lino Tenório do seu canto. E Janjão: -O fuzil engasgou!
Até que Janjão joga-se no chão, segurando a coxa e gritando:
-Me acudam! Fui ferido.
E passando a mão na perna, sente o líquido descendo, para aumentar ainda o seu desespero:
-Tô me esvaindo em sangue!
Ronco Grosso sai do seu posto, rasteja até Janjão, vira ele de lado e prepara-se para ver a ferida, quando constata:
-Tás ferido coisa nenhuma, Janjão! Isso aí nunca foi sangue. É a água da cabaça quebrada.