
Miguel Lucena
Chico Maivadeza sempre foi curioso, desses que desmontam rádio para ver onde mora o sanfoneiro. Ao visitar o conterrâneo Zé de Louro em São Paulo, ficou encantado com a tal piscina de borda infinita. Parecia que a água ia direto para o horizonte, abraçando o céu sem cerimônia. Era domingo, o sol brilhava como o ouro de um coronel, e a turma bebia cachaça da Paraíba e de Pernambuco, enquanto rolinha assada circulava em pratos improvisados.
Entre um gole e outro, Maivadeza, com sua curiosidade sertaneja, deixou cair um pedaço de rolinha com farofa no cantinho da piscina. Em vez de escorregar para o além, o petisco sumiu numa calha escondida, desmascarando o truque.
“Essa borda infinita é igual ao mundo: tudo ilusão de ótica”, sentenciou, coçando o queixo. A turma riu, brindou e filosofou junto, confirmando que, seja na piscina ou na vida, sempre tem uma calha escondida segurando a farofa que a gente pensa ter perdido. E assim, entre cachaças e reflexões, descobriram que a verdadeira infinitude mora é no gole seguinte.