Ilustração/IA
Miguel Lucena
Tião Badé, um rapaz simples de Princesa, Paraíba, nunca havia namorado. A solidão sempre o acompanhava, até aquela noite de fim de ano. Durante a festa, enquanto os fogos iluminavam o céu, ele viu uma moça de beleza única no oitão da igreja. Ela disse ser do Sítio Gavião, e sua voz doce e olhar profundo prenderam Badé imediatamente.
Decidiram caminhar pela praça, descendo pela Rua Nova, onde o silêncio parecia conspirar com a intimidade crescente entre os dois. Conversavam sobre a vida e as peculiaridades da cidade, até que pararam nos arredores da Igreja do Rosário dos Pretos, à beira do cemitério. Ali, sob a luz pálida da lua, trocaram beijos e abraços, enquanto o vento frio da noite soprava.
Depois de algum tempo, a moça, com um sorriso enigmático, disse que precisava ir embora.
“Vai embora com quem?”, perguntou Badé, preocupado. “O Gavião é longe para você ir sozinha a essa hora.”
Ela riu levemente, sua expressão carregada de algo que Badé não soube decifrar. “Eu já morei no Gavião, mas agora moro logo ali”, disse, apontando para o cemitério.
O sangue de Badé gelou. Ele recuou, tentando rir, achando que era brincadeira. Mas, quando olhou novamente, ela havia desaparecido.
Tião passou a noite sem dormir, repetindo o nome da moça que ele jamais perguntou. E até hoje, quem passa por aquelas redondezas jura ouvir risos femininos e passos entre os túmulos nas noites de lua cheia.