
Miguel Lucena
O crime organizado não se resume a grupos armados que ocupam territórios em favelas e áreas carentes. Trata-se de uma estrutura criminosa complexa, com divisão de tarefas, hierarquia, planejamento, objetivos econômicos e até políticos. Pode atuar no tráfico de drogas e armas, mas também em fraudes fiscais, corrupção, contrabando, lavagem de dinheiro e manipulação de contratos públicos.
O crime organizado, em muitos casos, infiltra-se nas estruturas do Estado. Utiliza a corrupção como ferramenta, cooptando agentes públicos, policiais, juízes e políticos. Essa simbiose entre crime e poder é o que o torna mais difícil de combater, pois cria zonas de proteção e impunidade.
Nenhuma organização criminosa sobrevive sem algum grau de conivência institucional. A corrupção é o oxigênio do crime organizado. Onde o Estado é fraco, ele avança. Onde o Estado é cúmplice, ele se fortalece.
O enfrentamento não pode ser apenas bélico, pois guerra em território urbano é guerra contra o próprio povo. O caminho eficaz é a inteligência: cortar o fluxo financeiro, rastrear transações, interceptar comunicações e estrangular a logística — rotas de drogas e armas, portos, fronteiras e esquemas de lavagem.
As drogas e armas que alimentam o crime não são fabricadas nos morros. Vêm de fora — das fronteiras permeáveis, de países vizinhos e de fabricantes estrangeiros. Enquanto houver demanda e corrupção, as rotas continuarão abertas. O combate real exige coordenação internacional, controle financeiro e um Estado que não se ajoelhe diante do poder paralelo.


