
Miguel Lucena
Antes do telefone celular, quando os contatos eram feitos pessoalmente, os políticos já se escondiam dos eleitores e correligionários. Escondiam-se literalmente.
Nos anos 1960, meu pai rompeu com um grupo político porque o chefe contratou seus serviços de fotografia e, depois da eleição, desapareceu para não pagar a conta. Um dia, ele foi à casa do doutor e pediu para falar com ele. A empregada respondeu que o patrão havia viajado para João Pessoa. Só que, quando chegou, meu pai viu o vulto do homem correndo da sala para a cozinha.
Meu pai sorriu e disse:
— Diga ao doutor que, quando for para a capital, não se esqueça de levar a careca!
Hoje, o político não precisa mais correr: basta silenciar o celular, deixar o eleitor no “visto” e continuar se escondendo — agora, atrás do próprio silêncio.

