“O patriotismo é o último refúgio do canalha” – não o “amor real e generoso” pela pátria.
Maria José Rocha Lima
A frase, no original em inglês (patriotism is the last refuge of a scoundrel), é atribuída ao literato inglês Samuel Johnson e registrada por seu amigo e pupilo, James Boswell, em Life of Samuel Johnson (1775), obra amplamente reconhecida como a mais grandiosa biografia já escrita em língua inglesa.
Boswell destacou que Johnson não se referia ao verdadeiro amor pela pátria, mas ao “falso patriotismo que tantos, em todas as épocas e países, têm usado como manto para os próprios interesses”.
Em sentido amplo, a frase observa que o patriotismo é um conceito manipulável, capaz de servir até mesmo de escudo para canalhas. Em um nível mais profundo, indica que, quando confrontados, indivíduos inescrupulosos recorrem a um falso devotamento patriótico para explorar o sentimento coletivo e, assim, avançar seus interesses e proteger sua imagem pública.
Patriotismo e totalitarismos
Ao longo da história, o falso patriotismo esteve associado a regimes autoritários que instrumentalizaram o sentimento nacional:
Benito Mussolini (1883–1945) fundou o fascismo em nome do nacionalismo. Seu regime combinava corporativismo, expansionismo, colaboração de classes e censura a “subversivos”, apoiando-se em maciça propaganda estatal. Filho de um revolucionário socialista, Mussolini aproximou-se inicialmente do socialismo militante, mas acabou conduzindo a Itália a uma ditadura marcada pela repressão.
Adolf Hitler (1889–1945), austríaco de origem, liderou a Alemanha Nazista entre 1933 e 1945. Sua retórica explorava preconceitos, fobias e ressentimentos latentes na sociedade alemã, culminando no Holocausto e em crimes contra a humanidade.
Joseph Stalin (1878–1953) defendeu o chamado Nacional-Bolchevismo, mesclando elementos de ultranacionalismo ao bolchevismo. Participante ativo da Revolução Russa de 1917, após a morte de Lenin assumiu o poder e implantou um regime de perseguições políticas, prisões arbitrárias, execuções e envio de opositores a campos de trabalho forçado.
Reflexão final
Em nome do patriotismo, da soberania nacional e até da democracia, inúmeras atrocidades foram cometidas contra massas inocentes ou hipnotizadas por canalhas — psicopatas fanatizados pelo poder e embalados por promessas enganosas.
Maria José Rocha Lima é professora, mestre em Educação pela Universidade Federal da Bahia e doutora em Psicanálise. Foi deputada estadual (1991–1999).