quarta-feira, 09/07/25

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O lumpen é a massa de manobra de esquerdistas e milionários

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Maria José Rocha Lima

Num tempo, nada longínquo, a classe operária era, quase, a única classe que interessava aos comunistas. Chamar para o partido o lumpen, os descamisados, os pés descalços, pés de poeira, nem pensar.  Era uma heresia!  
O lumpen, pela falta de consciência de classe e pelo cinismo, poderia contaminar os proletários,  vendendo-se a quem pagasse mais. Na verdade, o lumpenproletariado é um termo para nomear o subproletariado, um grupo potencialmente constituído de mercenários e traidores.  
 O termo, que pode ser traduzido, ao pé da letra, como “homem trapo”, foi introduzido por Karl Marx e Friedrich Engels em A Ideologia alemã (1845). Agora, todo mundo usa roupa rasgada!  
Em O 18 Brumário de Luís Bonaparte, capítulo V, de 1852, Marx descreve o lumpenproletariat:  
“Sob o pretexto de criar uma sociedade de beneficência, organizou-se o lumpemproletariado de Paris em seções secretas, cada uma delas dirigida por um agente bonapartista[…] Junto a roués arruinados (devassos, libertinos, espancados), com duvidosos meios de vida e de duvidosa procedência, junto a descendentes degenerados e aventureiros da burguesia, vagabundos, licenciados de tropa, ex- presidiários, fugitivos da prisão, escroques, saltimbancos, delinquentes, batedores de carteira e pequenos ladrões, jogadores, alcaguetes, donos de bordéis, carregadores, escrevinhadores (escreve mal, borra papéis), tocadores de realejo, trapeiros, afiadores, caldeireiros, mendigos – em uma palavra, toda essa massa informe, difusa e errante que os franceses chamam la bohème: com esses elementos, tão afins a ele, formou Bonaparte a soleira da Sociedade 10 de Dezembro. (MARX, 1851e 1852)  
Descamisado é o a parcela social culturalmente inferior, desorganizada e cínica, sem consciência de classe, movida, essencialmente, a dinheiro, que poderia contaminar o proletariado. Esse voto só interessava aos partidos conservadores. Só estes faziam campanhas nos grotões, nas favelas e invasões, atualmente denominadas comunidades, e nas zonas rurais, entre os camponeses pobres, que eram vistos, pela esquerda, com desconfiança, porque se apegavam à propriedade da terra.  
Portanto, aos comunistas só interessavam a classe operária, só esta era revolucionária.  A luta de classes levaria inelutavelmente à ditadura do proletariado que constituía, apenas, uma etapa rumo à abolição de todas as classes e à sociedade sem classes – o comunismo.  
Atualmente, o proletariado tem padrão de vida muito superior em relação às suas condições do início da Revolução Industrial, quando jornadas de mais de doze horas e a intensa utilização de mão – de – obra infantil eram a regra. Em geral, os estudos estatísticos o classifica como “classe média”, embora aquilo que o define como “proletariário” continue existindo, que é não deter os meios de produção e vender sua força de trabalho em troca do salário para a sobrevivência.  
Da metade do século XX para cá, o estado conseguiu manejar o antagonismo proletário a ponto de quase dissolvê-lo (através de diversas medidas, tais como: leis trabalhistas, a transformação dos sindicatos em mediadores entre capitalistas e trabalhadores, repressão, dissolução do internacionalismo proletário nos nacionalismos e demais conflitos), fazendo o proletariado ser dificilmente identificado na sociedade.  
Para Luiz Antonio Guerra (2014), a ditadura do proletariado tinha a função de desmontar o Estado Burguês, abolindo a burocracia, a polícia e o exército permanente. Para cumprir seus objetivos, era preciso que o proletariado se utilizasse da violência armada. Portanto, a ditadura do proletariado seria um período transitório que desapareceria quando se eliminasse a dominação da burguesia. O pensador e revolucionário russo destacou a importância da ação revolucionária do proletariado ser dirigida por um partido de vanguarda coesamente organizado. 
De acordo com o autor, após a derrubada do Estado burguês, caberia ao proletariado organizado expropriar todo o capital da burguesia e centralizar os instrumentos de produção nas mãos do Estado, abolindo a propriedade de terra e o direito à herança. Parte desse programa fez parte dos desdobramentos de revoluções socialistas no século XX, como, por exemplo, na União Soviética, em Cuba e na China. O “socialismo real” acabou perdendo apoio na medida em que o Novo Estado criado se tornou mais forte ao invés de desaparecer e escapou do controle da classe operária,  transformando-se na dominação de uma vanguarda do partido.  

Maria José Rocha Lima é mestre e doutoranda em educação. Foi deputada de 1991 a 1999. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. Psicanalista e dirigente da ABEPP. Membro do Clube Soroptimista Internacional Brasilia Sudoeste. 

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