
Miguel Lucena
Não foi um comitê de economistas, tampouco uma análise geopolítica profunda. Quem melhor explicou o tarifaço que abalou as bolsas do mundo foi mesmo o conterrâneo João Tranguelo, entre uma dose de cachaça e outra de mel de engenho.
— Aquilo, Miguel, foi estupor calango! — decretou, com a autoridade de quem já viu muito jegue dar coice em crista de galo.
Segundo Tranguelo, Donald Trump não acordou bem naquele dia. Teve foi um levante dos infernos, daqueles que misturam prisão de ventre com arroto choco, um nó na tripa gaiteira que nem reza braba desfaz. Acrescente-se aí um surto de oxiúros e hemorroidas em brasas.
— É o tipo de manhã em que até a Mãe de Pantanha baixa no cangote da gente, e o jegue de Rosendo aparece pra completar o serviço por trás — explicou, como quem decifra um oráculo caipira.
Enquanto os analistas da Bloomberg tentavam entender o impacto das tarifas sobre o aço e o alumínio, Tranguelo já sabia: não era economia, era desarranjo. Não dos intestinos, veja bem — isso era o de menos — mas da alma, daquela alma atormentada que habita certos homens quando o mundo teima em não ser do jeito que eles querem.
No fim das contas, talvez esteja aí a chave para decifrar certos governantes. Antes de consultar gráficos e relatórios, melhor perguntar: “como foi o intestino dele hoje?” Se estiver virado, é melhor segurar o chapéu que vem vendaval.
E o mercado que lute.