Miguel Lucena
O enforcamento é uma forma cruel de violência, historicamente usada para subjugar, amedrontar e até exterminar pessoas. No caso das mulheres, essa prática carrega um simbolismo ainda mais perverso: o silenciamento pela força, a imposição do medo como arma de dominação.
Foi nesse contexto de violência simbólica que um senador da República, em uma declaração repugnante, fez uma “brincadeira” sobre enforcar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva. Diante de uma audiência oficial no Senado, ele afirmou que não sabe como alguém poderia passar seis horas ao lado de Marina sem sentir vontade de enforcá-la. O comentário, além de grotesco, expôs a persistência de uma mentalidade misógina dentro da política brasileira.
A fala gerou revolta e motivou uma denúncia no Conselho de Ética, assinada por deputadas de diversos partidos. Não se trata apenas de um comentário infeliz, mas de uma manifestação que reforça a cultura de violência contra a mulher, normalizando a ideia de que uma figura pública feminina pode ser atacada com ameaças, ainda que veladas.
O senador, ao ser pressionado, afirmou que não se arrepende. Seu desdém diante da repercussão mostra o quanto o machismo estrutural ainda encontra espaço dentro do Parlamento. O episódio revela não apenas o desprezo pelo decoro, mas a naturalização da agressão contra mulheres que ousam ocupar espaços de poder.
Marina Silva, reconhecida por sua trajetória de luta ambiental e social, respondeu com a firmeza de quem já enfrentou adversidades muito maiores. Disse que apenas “psicopatas” seriam capazes de fazer tal declaração, evidenciando que a violência política de gênero não pode ser minimizada.
Este caso não pode ser tratado como mera polêmica passageira. A democracia exige respeito e civilidade no debate público. Palavras têm peso e podem estimular atos concretos de violência. O enforcamento simbólico de Marina é um alerta para a sociedade: até quando toleraremos que a política seja um espaço de ameaças e agressões contra mulheres?