Alguém já viu um camponês ou operário fazendo fofocas ou recorrendo a mexericos para atingir a honra de terceiros? Já vi gente licenciada praticando esse tipo de infâmia, porquanto é coisa típica de quem é pouco dado ao trabalho duro.
O ambiente político, incluindo aí as atividades que o rodeiam, é bem propício a esse tipo de conduta. Se o candidato anda com gente pouco dotada de beleza, nos padrões estabelecidos pela sociedade, é considerado desprestigiado, mas, se há beldades em seu staff, os maledicentes se aproveitam para espalhar boatos desabonadores.
Sem enxergar a própria desgraça, pessoas malsucedidas se empoderam no período eleitoral e demonstram vaidades sem limites, aderindo ao jogo sujo dos ataques desprovidos de fundamento com o objetivo, apenas, de ferir o alvo de sua inveja ou cobiça.
O mexerico tem caráter amoral, embora apareça com a capa da censura moral. É próprio dos sem caráter, pessoas invertebradas e sem coragem, que agem nas sombras e caminham se esgueirando na escuridão dos becos da traição.
Outro traço característico é a hipocrisia: mercenários costumam aparecer como voluntários, prostitutas como pudicas, inférteis desdenham a fertilidade, leiloeiras do amor juram lealdade, ladrões pregam honestidade, eleitores corrompidos criticam políticos corruptos, ingratos se dizem agradecidos e quem afirma não querer nada é quem mais quer.
Quem não tem força para ousar vencer usa o mexerico para derrotar quem luta, sendo a inveja, pecado que ninguém assume, o sentimento mais comum a esse tipo de gente.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.