No Morumbi, Tricolor marca com Luan e Luciano, tem festa fora do estádio e volta a comemorar um título após mais de oito anos – e um estadual depois de 16 temporadas
O dia 23 de maio de 2021 já está marcado na história são-paulina como o fim do jejum mais recente do clube. Com a vitória sobre o Palmeiras por 2 a 0, no Morumbi, o São Paulo se sagrou campeão paulista e saiu da fila, como os torcedores costumam dizer. O último troféu havia sido levantado em 2012, na Copa Sul-Americana. Em relação ao Estadual, o jejum perdurava desde 2005.Os heróis da conquista foram o volante Luan, protagonista improvável com um chute de fora da área quando o jogo estava enroscado no primeiro tempo, e o atacante Luciano, que entrou no segundo tempo para tornar o time mais dinâmico e letal nos contra-ataques.
O clima de decisão e o peso emocional da disputa ofuscaram as jogadas individuais. Poucos brilharam individualmente. Novamente, os dois times apresentaram esquemas espelhados, com três zagueiros e congestionamento no meio-campo. Jogo travado a exemplo do que havia sido a ida, aquele empate por 0 a 0, no Allianz Parque.
A conquista confere êxito à estratégia da comissão técnica e da diretoria de apostar todas as fichas no torneio estadual para encerrar o jejum de títulos. Desde o início da disputa, o São Paulo usou os titulares, inclusive nas duas últimas partidas da Libertadores, o grande sonho dos clubes brasileiros. A vitória também representa um excelente começo para o técnico Hernán Crespo, em ascensão na carreira. É o segundo título de sua carreira, depois da conquista da Copa Sul-Americana com o Defensa y Justicia.
O São Paulo teve muitas dificuldades na comunicação entre defesa e ataque. Os dois principais articuladores da equipe – Benítez e Daniel Alves – ficaram fora da decisão por causa de lesões. Com isso, o time tentava a ligação direta, do meio para o ataque. Apenas tentava. A bola batia e voltava. Além dos desfalques, o time sentiu falta de movimentação e dinamismo.
O Palmeiras trouxe uma mudança importante no meio. A entrada de Danilo Barbosa foi uma tentativa de chegar mais à área – ele tem uma pegada mais ofensiva do que Patrick de Paula, que atuou na primeira partida. Também foi uma aposta na jogada aérea. Essa foi a razão da mudança nas palavras do próprio técnico Abel Ferreira, antes da partida. O plano começou a dar certo logo aos 8 minutos, quando Rony deixou Danilo em boas condições para finalizar. O chute saiu torto.
Outra diferença a favor do time alviverde foi a presença de Rony Com velocidade pelos lados do campo, ele garantia profundidadeMesmo com leve superioridade palmeirense, as defesas prevaleceram. Jogo com raríssimas finalizações, tamanho o tamanho – e a consistência – dos muros que se formaram à frente das duas defesas.
Nesse cenário truncado, amarrado, como havia sido o primeiro jogo, o time da casa conseguiu abrir o placar aos 36 minutos. O volante Luan chutou de fora da área e contou com desvio em Felipe Melo para fazer 1 a 0. Foi a primeira finalização do time tricolor no jogo. A abertura do placar foi mérito, principalmente, de um jogador que arriscou chutar a gol. Vale lembrar que Luan é volante, marcador tradicional, que rouba a bola e toca de lado. Ele ousou fazer uma coisa diferente.
O Palmeiras tentou ser mais agressivo. Aproveitando toda a paleta de cores do elenco, Abel Ferreira desmontou a linha de três zagueiros mais flexível. A intenção era que mais meias se aproximassem do ataque. Depois, o treinador trocou o cérebro do time, Raphael Veiga, bem marcado e discreto. O jogo do Palmeiras continuava girando em falso.
As mudanças no São Paulo foram mais positivas. Quando Luciano entrou no lugar de Pablo, o time se tornou mais criativo e ganhou mais posse de bola. Luciano voltava para armar e confundia a defesa. Igor Gomes avançava como um camisa 9. Foi nesse cenário que o time da casa conseguiu ampliar o placar. Aos 31 minutos, o volante Rodrigo Nestor, outra novidade do segundo tempo, cruzou e Luciano fez o segundo gol.
Nos dez minutos finais, o jogo ganhou o dinamismo que se esperava desde a primeira partida. As chances se somaram com Gabriel Sara, de um lado, e Wesley, do outro. Jogo aberto, lá e cá. Mas a vantagem de 2 a 0 foi suficiente para o São Paulo fazer uma contagem regressiva segura até gritar novamente “campeão”.
Por Estadão Conteúdo