Miguel Lucena
Tolera-se tudo no Brasil, menos ser flagrado. Mesmo sabendo que a riqueza de certa pessoa é ilícita, quase todos a recebem com as homenagens que a posição pode comprar.
Já ouvi argumentos justificando que a pessoa jamais havia sido pega, apesar das suspeitas sobre a evolução injustificada de patrimônio.
Gente que se dizia honesta falava, na Bahia, que determinado político havia ficado milionário, sem renda que justificasse aquele acúmulo de patrimônio, porém nunca havia sido condenado pela Justiça.
O enriquecimento ilícito corre solto nos bastidores do poder. Pessoas que nunca tiveram emprego certo aparecem, de repente, com casa ou apartamento em área nobre, carrão na garagem, fazenda de gado e investimento em ações. Alguns até disfarçam, comprando um diploma em faculdade particular, abrindo um escritório de fachada e espalhando que são bambas no que fazem. Os mais ousados acusam o amigo mais próximo de não estar rico também por não saber fazer pé-de-meia.
A hipocrisia reina: é ladrão, mas me beneficia, então é gente boa; é bandido, porém é do meu cordão, então não tem defeito.
Quando alguém dá uma escorregada e cai fazendo algum malfeito, os que se beneficiaram de suas ações delituosas são os primeiros a colocarem sua cabeça a prêmio. Alguns até o julgam, com a maior sem-cerimônia.