terça-feira, 16/09/25
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No Difícil Facilitário do Verbo Ouvir – Artur da Távola ensina “Mevitevendo”

 

Maria José Rocha Lima

Certa vez, recebi da amiga psicanalista Maria Elena Rodrigues da Silva a obra Mevitevendo (1977), em que Artur da Távola revela que “um dos maiores problemas de comunicação, tanto a de massas como a interpessoal, é o de como o receptor ouve o que o emissor falou”.

Artur da Távola (1936-2008) foi advogado, jornalista, escritor, deputado (1987-1995) e senador (1995-2003). Pela brilhante atuação no Senado, ficou conhecido como o Cronista da Vida. A atualidade de sua obra é evidente, sobretudo nestes dias de “guerras de narrativas”, potencializadas pelas redes sociais.

No Difícil Facilitário do Verbo Ouvir – Mevitevendo, o autor ensina:

1. Em geral, o receptor não ouve o que o outro fala: ouve o que o outro não está dizendo.

2. O receptor não ouve o que o outro fala: ouve o que quer ouvir.

3. O receptor não ouve o que o outro fala: ouve o que já escutara antes e enquadra a fala do outro no que se acostumou a ouvir.

4. O receptor não ouve o que o outro fala: ouve o que imagina que o outro ia dizer.

5. Numa discussão, em geral, os debatedores não ouvem o que o outro fala: ouvem quase só o que estão pensando em responder.

6. O receptor não ouve o que o outro fala: ouve o que gostaria de ouvir ou o que gostaria que o outro dissesse.

7. A pessoa não ouve o que a outra fala: ouve apenas o que está sentindo.

8. A pessoa não ouve o que a outra fala: ouve o que já pensava sobre o assunto.

9. A pessoa não ouve o que a outra fala: retira da fala apenas as partes que a emocionam, agradam ou incomodam.

10. A pessoa não ouve o que a outra fala: ouve o que confirme ou rejeite seu próprio pensamento, transformando a fala em motivo de concordância ou discordância.

11. A pessoa não ouve o que a outra fala: ouve o que se adapte ao impulso de amor, raiva ou ódio que já sentia pela outra.

12. A pessoa não ouve o que a outra fala: ouve apenas os pontos de vista que, no momento, a influenciem ou toquem mais diretamente.

 

Artur da Távola, a quem homenageamos, deixou entre muitos legados “esses doze pontos que mostram como é raro e difícil conversar. Como é raro e difícil se comunicar.”

Maria José Rocha Lima é professora, mestre em Educação pela UFBA e doutora em Psicanálise. Foi deputada estadual (1991-1999). É psicanalista filiada à Associação Brasileira de Estudos e Pesquisas em Psicanálise – ABEPP.

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