Miguel Lucena
Qual o sentido da convocação de uma manifestação pública? A obtenção de algum resultado. As manifestações de 1984 exigiam diretas, já! O Congresso Nacional, apesar das multidões, optou pela eleição do presidente da República pelo Colégio Eleitoral, a via indireta, após 20 anos de governos militares.
As multidões, em vez de tocarem fogo no Congresso, mantiveram as mobilizações para eleger o candidato da Frente Democrática, Tancredo Neves, que acabou morrendo antes de tomar posse. Assumiu o civil José Sarney, dissidente do regime militar.
Na manifestação do 7 de Setembro, convocada pelos apoiadores do presidente Jair Bolsonaro, os protestos não se limitaram a exigir o impeachment do ministro Alexandre de Morais, o que é previsto constitucionalmente. Muitos pediram o fechamento do Supremo Tribunal Federal, intervenção militar sob a liderança de Bolsonaro, fechamento do Congresso Nacional e outras bandeiras ilegais.
O presidente se limitou a repetir seu discurso antissistema, como se ele fosse um político à parte de tudo, o que não é verdade. Bolsonaro e a família são políticos profissionais, vivem da política, comem, bebem e vestem dos mandatos.
Vociferou contra as urnas eletrônicas. Eu também não boto minha mão no fogo por nada, mas acho difícil alguém pagar ao TSE para perder, porquanto quem se elegeu em 2018 foram Bolsonaro e os filhos.
Bolsonaro atacou Alexandre Morais, deu uns gritos, mas não teve coragem de pregar abertamente o que deseja: governar sem as instituições que impõem limites ao governante. O sistema de freios e contrapesos é o que incomoda o presidente. As negociatas de bastidores não o incomodam nem um pouco. Se o incomodassem, ele não teria feito acordo com o Centrão, o bloco que sugou os governos do PSDB e PT durante 21 anos e continuará sugando qualquer um que estiver no poder.
O presidente perdeu a oportunidade de anunciar saídas para a crise econômica, a quebra dos esquemas das distribuidoras de combustíveis, a privatização de estatais que só servem a grupos corruptos e as reformas necessárias à modernização do Brasil.
Preferiu jogar para a plateia, que é serviço mais maneiro.