Miguel Lucena
A política em Brasília é decidida, há anos, entre esquerda e direita, com o centro sendo o fiel da balança em alguns momentos.
A direita sempre foi representa por Roriz, depois que o velho cacique rompeu com o PT nos anos 1980, em Goiânia, Goiás. Para quem não sabe, Roriz foi petista por um breve tempo, mas, como não conseguiu mandar no partido, mudou-se para o PMDB de Henrique Santillo.
Em torno de Roriz, juntavam-se os tradicionais rorizistas e aliados de ocasião, o mesmo acontecendo com a esquerda – PT e aliados.
O centro era ocupado por José Roberto Arruda, tucano que transitava entre parte dos rorizistas menos azuis e a esquerda mais cor de rosa, como o antigo PCB/PPS/PDT e o PSB de Rollemberg.
A esquerda venceu em 1994 e só não venceu em 1998 por causa de suas intermináveis brigas internas, provocando a derrota de Cristovam Buarque e a vitória de Roriz, reeleito em 2002 em um pleito dos mais apertados, com o uso da máquina a todo vapor.
O centro arrudista venceu em 2006, mas só conseguiu êxito com a cooptação de parte dos rorizistas que abandonaram Abadia e ostentando uma cara de centro-direita (PFL), já que Abadia ficou com a legenda do PSDB.
Tragado na crise da Operação Caixa de Pandora, Arruda deixou o poder com três anos de governo. Assumiram provisoriamente Wilson Lima e Rogério Rosso, egressos do rorizismo.
Nas eleições de 2010, o PT retornou ao poder, tendo como candidato o ex-deputado e ex-ministro Agnelo Queiroz, oriundo das hostes do Partido Comunista do Brasil, em aliança com Tadeu Filipelli, ex-rorizista e depois arrudista.
Com Arruda fora do páreo e o rorizismo em declínio, um candidato de centro-esquerda, Rodrigo Rollemberg (PSB), venceu o pleito de 2014, o que só foi possível com os votos da esquerda.
Em 2018, Ibaneis Rocha (PMDB) saiu de zero por cento para desbancar os concorrentes que estavam na dianteira – todos ex-rorizistas e arrudistas – e o então governador Rodrigo Rollemberg. Além de muito dinheiro, ele contou com ex-rorizistas, ex-arrudistas e expoentes da esquerda que não quiseram apoiar Rollemberg.
Fica a lição para 2022: quem acha que ganha a eleição sozinho, sem levar em conta o peso do eleitorado de esquerda ou direita, poderá se enganar. Há um bom espaço para o centro caminhar, mas, na hora de a onça beber água, o poço pode ficar distante sem a ajuda de um dos lados.