Miguel Lucena*
Será que ninguém sabia que grupos de policiais militares serviam aos donos de boates e prostitutas do Setor Hoteleiro Norte nas noites eróticas e drogadas de Brasília e delas/deles se serviam à vontade? Essas guarnições não têm comando? Para que serve o Centro de Inteligência da Corregedoria?
As áreas correcionais de certas corporações se apegam muito a detalhes sem importância, como punir quem não bate continência ou foi trabalhar com a roupa amassada.
O ser humano, se não tiver nenhum controle, descamba mesmo para o lado errado. Não podemos massacrar a Polícia Militar, que merece o nosso respeito, e sim exigir que os órgãos superiores funcionem de fato, para que os policiais indecentes e corruptos sejam punidos e os corretos deixem de passar vergonha pela atitude dos colegas desonrados.
O corporativismo exagerado também dificulta a punição dos maus policiais. Quando se denuncia que há profissionais fazendo segurança de boates e supermercados em dias de serviço, quando, com vistas grossas, poderiam fazê-lo em suas folgas, muitos atacam o denunciante com pedras nas mãos.
Recentemente, prendemos um sargento, envolvido com a máfia das grilagens no Sol Nascente, e apreendemos na casa dele uma carteira de trabalho assinada por uma empresa. Ele justificou que era bico, mas, quando foi demitido, recebeu na Justiça do Trabalho todas as indenizações a que tinha direito. Difícil de entender, se a lei exige dedicação exclusiva à corporação militar.
A impressão que fica é que ninguém dá importância a nada até que saia na mídia. Então, das mais altas autoridades aos frequentadores dos prostíbulos, todos fazem cara de indignação.
Os contingentes não podem andar por aí sem controle. O ser humano não consegue agir bem sem freios, sem a supervisão de superiores que façam valer as regras estabelecidas pela sociedade, sob pena de ficarmos submetidos aos critérios impostos pelos desembestados.
*Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.