A trajetória de Natasha Demkina é misteriosa e controversa. Nascida em 1987 na cidade de Saransk, a 600 quilômetros de Moscou (Rússia), Natalya Nikolayevna Demkina teve que ser submetida a uma operação de apêndice aos 10 anos. Desde que a garota foi acordada do pós-operatório, ela alegou que conseguia enxergar dentro do corpo das pessoas “como se fosse um raio x”.
“Eu estava em casa com a minha mãe quando, de repente, eu tive uma visão. Foi como um flash. Eu consegui ver o corpo da minha mãe e seus órgãos. Por uma fração de segundos, eu posso enxergar uma imagem colorida e então começo a analisá-la como se fosse um exame”, revelou Demkina em 2004 em um documentário do Discovery Channel.
A partir disso, Tatyana Vladimovna, mãe da jovem, encaminhou-a para o hospital local, onde ela se tornou o centro das atenções. Os médicos a submeteram a várias tarefas para descobrir se essa sua nova habilidade era algo genuíno ou não. Primeiro, ela teria sido levada até o centro pediátrico, onde ela conseguiu diagnosticar corretamente as doenças que as crianças tinham usando apenas a sua “visão de raio x”. Ela detectou úlceras estomacais e até corrigiu um diagnóstico de câncer em uma idosa, dizendo que o que ela tinha, na verdade, era um cisto – o que foi comprovado após análises mais apuradas.
A garota extraordinária
Devido ao fator extraordinário do caso, não demorou para que a história de Demkina e de sua capacidade especial se espalhassem pela mídia russa. Em 2003, um canal de televisão exibiu uma matéria falando sobre a jovem e a fez demonstrar sua habilidade ao vivo. Foi lá que a apelidaram de “Garota Raio X”.
Foi uma questão de tempo para que o burburinho do seu caso ganhasse os tabloides do mundo. Em janeiro de 2004, Demkina foi convidada para voar até Londres e conceder uma entrevista ao The Sun para que fizesse uma série de demonstrações de seus diagnósticos de “raio X”. A partir disso, a garota começou a ter a sua capacidade desafiada.
Ela disse ao famoso médico Chris Steele, do programa This Morning, que ele sofria de uma série de condições médicas, tais como pedras nos rins, doença na vesícula biliar e fígado e pâncreas dilatados. Contudo, após uma avaliação médica apropriada, foi determinado que Steele estava perfeitamente bem de saúde, e que não havia nem rastro das doenças identificadas por Demkina.
Em maio daquele mesmo ano, ela fechou um contrato com o Discovery Channel para a produção de seu documentário, intitulado A Garota com Olhos de Raio X, e passou uma temporada em Nova York.
No programa, Demkina teve que enfrentar o Comitê para Investigação Científica de Alegações Paranormais (CSICOP), o mesmo que testou as capacidades de Uri Geller e não conseguiu desvendá-las. A garota fez descrições de condições médicas específicas a pessoas convidadas que já tinham sido submetidas a diagnósticos, e a maioria delas ficou impressionada com as leituras feitas por Demkina. Entretanto, o pesquisador Richard Wiseman não ficou: “Quando eu a vi fazer suas leituras, não pude acreditar na discrepância entre o que estava ouvindo e o quão impressionadas as pessoas estavam. Eu achei que elas iriam embora constrangidas, mas, de repente, elas alegaram que era incrível o que a menina fazia”, declarou o membro da CSICOP.
Demkina não acertou qual era nenhum dos problemas principais dos indivíduos, e Wiseman e outros especialistas compararam o que ela fazia à crença em videntes, dizendo que as pessoas tendem a se concentrar na parte dos comentários em que acreditam.
Pondo à prova
No teste mais desafiador e polêmico do documentário – e responsável pelas conclusões finais –, Demkina teve de combinar corretamente seis anomalias anatômicas especificas em sete voluntários, sendo que um deles não tinha nada.
Ray Hyman, Richard Wiseman e Andrew Skolnick deixaram claro que, mesmo que a jovem apontasse corretamente quais das pessoas tinham problemas, seria algo inútil do ponto de vista teórico, e considerado mais fruto de uma “análise fria” feita por Demkina do que parte de seus possíveis “poderes”. Em 4 horas de experimento, ela conseguiu correlacionar perfeitamente as condições de quatro voluntários, incluindo o saudável. No entanto, isso não pareceu suficiente para os especialistas.
Com o fim das gravações do documentário, Demkina veio a público para reclamar das condições em que o Discovery Channel conduziu os experimentos e sobre a maneira vexatória como seus diagnósticos foram tratados. Ela refutou a maioria de seus fracassos, detalhando o motivo de não ter sido capaz de determinar o que se passava com alguns voluntários.
O embate público criou uma polarização entre os apoiadores de Demkina e a visão científica. Em defesa, Brian Josephson, físico ganhador do Prêmio Nobel e entusiasta da parapsicologia, criticou os métodos dos testes e as avaliações feitas pelos membros da CSICOP. Ele apontou que o experimento parecia ter sido algum tipo de conspiração para “envergonhá-la e desacreditar da capacidade de Natasha Demkina, como se ela não passasse de mais uma aproveitadora barata”.
O Centro Demkina
Josephson argumentou que a garota tinha cerca de 2% de acerto em cada teste que foi realizado, o que estatisticamente era uma taxa muito expressiva, portanto os resultados deveriam ser considerados inconclusivos. Em resposta, Ray Hyman disse que o alto valor de referência foi usado para compensar o grande número de pistas sensoriais deixadas para que Demkina pudesse acertar.
Depois do que aconteceu em Nova York, a jovem estabeleceu várias condições para quando fosse testada, incluindo que os voluntários trouxessem um atestado médico e que o diagnóstico fosse restrito a uma parte específica do corpo, da qual ela deveria ser informada com antecedência.
Ela fez mais uma aparição na Fuji Television, no Japão, após ser convidada para ser testada pelo professor Yoshio Machi, que estudava alegações de habilidades humanas incomuns na Universidade de Comunicações Elétricas. Todos os seus resultados lá foram um sucesso aclamado pela mídia.
Em 2004, Demkina ingressou na Universidade Estadual de Medicina e Odontologia de Moscou. Em janeiro de 2006, ela fundou o Centro de Diagnóstico Especial de Natalya Demkina, cujo objetivo era trabalhar em parceria com profissionais da medicina tradicional e pessoas com capacidades especiais como ela
FONTE: MEGACURIOSO/BSBTIMES