Maria José Rocha Lima
Dom Tiago, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de São Sebastião do Rio de Janeiro, num encontro de Formação na Quaresma do Instituto Hesed(2024), destacou que o Papa Francisco dissera: “A fé não é uma teoria, uma ideia, mas uma relação, um encontro, um encontro com uma pessoa que vive. Nunca se deve substituir esta experiência feliz de encontro com o Senhor, com uma espécie doutrinação”. E Dom Tiago prossegue: “Em primeiro lugar: é preciso buscar o encontro com Deus; um encontro pessoal; eu preciso ver, na minha experiência pessoal, que eu estou me encontrando com o Senhor; eu estou buscando uma relação com ele; eu quero estar com ele. A partir desse encontro virá o momento de aprofundar esse encontro, compreender aquilo tudo o que o Senhor está nos ensinando”.
Para Dom Tiago, a libertação do povo judeu, escravizado no Egito, em direção à Terra Prometida, se deu com base numa Aliança. Eu sou o Senhor teu Deus, que te tirei da terra do Egito, da casa da servidão. Não terás outros deuses diante de mim. Êxodo 20: 2,3. “Deus não teria dito isto, por ciúmes, nem para oprimir o ser humano, mas para o nosso bem, para que não nos percamos em meio a tantas doutrinas. Aqui, faço um parêntese: a secularização das sociedades, o abandono dos dez mandamentos promoveu escravidão em vez de liberdade para o ser humano. Para o psiquiatra austríaco Viktor Frankl, “a liberdade oprime o homem”. O autor reflete: “No passado, o homem tinha que se submeter aos 10 mandamentos e isto se apresentava como um fardo, um peso, e agora o indivíduo livre tem que se submeter aos 10 mil mandamentos das diversas situações, excessos de possibilidades, de escolhas na vida”. Portanto, essas reflexões podem ajudar na busca de significado para as nossas vidas, com Deus. O encontro com Deus é suficiente, vivendo com Deus encontraremos uma convivência com o amor. Deus parece nos dizer: você não precisa encontrar outros guias, Comigo você terá tudo o que precisa para viver bem, crescer no Amor e chegar na meta, à qual quero te conduzir.
Além do convite a uma aliança com Deus, o povo foi convidado a uma aliança entre pessoas próximas. Uma convivência com Deus baseada no amor. É um encontro com Deus que nos ama. Encontro com Deus que é apaixonado por nós. É difícil descrever a grandeza do Amor de Deus por nós. E se abrirmos As Santas Escrituras encontramos não apenas citações, mas verdadeiras declarações de amor por parte do próprio Deus. No profeta Isaías 54: “Ainda que os montes sejam abalados e tremam as colinas, o Meu Amor por ti jamais será abalado. A Minha Aliança de Paz nunca vacilará”. Ainda em Isaías 40, está escrito: “És precioso aos meus olhos, te estimo e te amo”. No mesmo livro, capítulo 49: “Acaso pode uma mulher esquecer-se do seu bebê, não ter carinho pelo fruto das suas entranhas? Ainda que ela se esquecesse dele Eu nunca te esqueceria. Eis que eu gravei a tua imagem na palma das minhas mãos”. Podemos conectar tudo isso, com o que aconteceu com o próprio Cristo, que foi pregado na cruz por Amor a nós, cumprindo a vontade do pai. As feridas do Cristo lembram de cada um de nós. Como fala São João no seu Evangelho: “Porque Deus amou o mundo de tal maneira, que deu o seu filho unigênito para que todos os que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna”. Em Romanos, mais uma declaração de amor: Cristo morreu em nosso favor quando ainda éramos pecadores. Poderíamos citar mais e mais declarações, aliás mais do que declarações são infinitas as ações que provam esse amor.
Um amor assim como o de Jesus, que dá tudo por nós, até o fim, é capaz de transformar os nossos corações de pedra em corações de carne. É um amor de piedade, ternura e compaixão. Deus é assim. Ele deseja que cuidemos dos irmãos e irmãs que mais se parecem com Ele, com Ele no ato extremo do sofrimento e da solidão. Hoje, queridos irmãos e irmãs, há tantos «cristos abandonados». Há povos inteiros explorados e deixados à própria sorte; há pobres que vivem nas encruzilhadas das nossas estradas e cujo olhar não temos a coragem de fixar; há migrantes, que já não são rostos, mas números.[…] Mas há também muitos cristos abandonados invisíveis, escondidos, que são descartados de forma «elegante»: crianças nascituras, idosos deixados sozinhos, doentes não visitados, pessoas portadoras de deficiência ignoradas, jovens que sentem dentro um grande vazio sem que ninguém escute verdadeiramente o seu grito de dor. E não encontram outra estrada senão o suicídio. Os abandonados de hoje. Os cristos de hoje.
Peçamos a graça de saber amar Jesus abandonado e saber amar Jesus em cada abandonado. Não permitamos que a sua voz se perca no silêncio ensurdecedor da indiferença.