A luta contra a mudança climática passa invariavelmente pela redução das emissões de carbono pela China, hoje uma das mais elevadas do planeta e em trajetória ainda crescente.
Segundo o presidente do país, Xi Jinping, as emissões atingiriam um pico ainda antes de 2030 e, graças à política de transição energética, a neutralidade de carbono seria alcançada até 2060.
Ele não detalhou, contudo, como alcançará essa meta extremamente ambiciosa.
Crescimento explosivo
Enquanto todos os países enfrentam problemas para reduzir suas emissões, a China tem possivelmente o maior desafio, dado o tamanho de sua população e seu agressivo crescimento econômico.
Suas emissões per capita são cerca de metade do registrado pelos Estados Unidos. Com 1,4 bilhão de habitantes, entretanto, a China libera em termos nominais mais gases nocivos ao meio ambiente do que qualquer outro país.
Tornou-se o maior emissor mundial de dióxido de carbono em 2006 e agora é responsável por mais de um quarto das emissões globais de gases do efeito estufa.
Os compromissos assumidos estarão sob os holofotes na cúpula climática global COP26 neste mês de novembro.
Junto com todos os outros signatários do Acordo de Paris em 2015, a China concordou em fazer mudanças para tentar manter o aquecimento global em 1,5°C acima dos níveis pré-industriais e “bem abaixo” de 2°C.
O país reforçou seus compromissos em 2020, mas o Climate Action Tracker, um grupo internacional de cientistas e especialistas em políticas para o clima, aponta que as ações tomadas para cumprir essa meta são “altamente insuficientes”.
Dependência do carvão
Reduzir as emissões da China é possível, de acordo com muitos especialistas, mas exigirá uma mudança radical.
O carvão é a principal fonte de energia do país há décadas.
O presidente Xi Jinping afirma que irá “reduzir gradualmente” o uso de carvão a partir de 2026. E que não construirá novos projetos movidos a carvão no exterior – mas alguns governos e ativistas dizem que os planos são pouco ambiciosos.
Pesquisadores da Universidade Tsinghua, em Pequim, dizem que o país precisará parar de usar carvão inteiramente para gerar eletricidade até 2050. O sistema deverá ser substituído pela produção de energia nuclear e renovável.
E, longe de fechar usinas elétricas movidas a carvão, a China está atualmente construindo novas plantas em mais de 60 pontos do país. Em muitos desses locais há mais de uma usina sendo erguida.
Como as novas estações de produção costumam ficar ativas por 30 a 40 anos, a China precisará reduzir a capacidade das usinas mais novas e também fechar as antigas se quiser reduzir as emissões, afirma o pesquisador Philippe Ciais, do Instituto de Ciências Ambientais e Climáticas de Paris.
Pode ser possível fazer uma reforma em alguns deles para diminuir as emissões, mas a tecnologia para fazer isso em grande escala ainda está em desenvolvimento – muitas plantas terão que ser fechadas após o uso mínimo.
A China argumenta que tem o direito de fazer o que os países ocidentais fizeram no passado, liberando dióxido de carbono no processo de desenvolvimento de sua economia e redução da pobreza.
No curto prazo, Pequim ordenou que as minas de carvão aumentem a produção para evitar a escassez de energia no próximo inverno. O aumento da demanda da indústria pesada após a pandemia de covid-19 levou à escassez em várias regiões do país nas últimas semanas.
Pesquisadores da Universidade de Tsinghua dizem que 90% da energia deve vir de fontes nucleares e renováveis até 2050.
Para alcançar esse objetivo, a liderança da China na fabricação de tecnologia verde, como painéis solares e baterias em grande escala, pode ser de grande ajuda.
A China primeiro adotou as tecnologias verdes como meio de combater a poluição do ar, um problema sério para muitas cidades.
Mas o governo também acredita que eles têm um enorme potencial econômico, proporcionando empregos e renda para milhões de chineses, além de reduzir a dependência do petróleo e gás estrangeiros.
“A China já está liderando a transição energética global”, disse Yue Cao, do Overseas Development Institute. “Uma das razões pelas quais somos capazes de implantar tecnologia verde cada vez mais barata é a China.”
A China gera mais energia solar e eólica do que qualquer outro país. Isso pode não ser tão impressionante, dada a enorme população chinesa, mas é um sinal de para onde o país está se dirigindo.
A estimativa é que a proporção de energia gerada a partir de fontes renováveis atingir 25% do total até 2030 – e muitos especialistas acreditam que a meta seja atingida antes.
Carros elétricos
A China ocupa o sétimo lugar no mundo em vendas de carros elétricos, proporcionalmente. Mas, devido ao seu enorme tamanho, ela fabrica e compra mais carros elétricos do que qualquer outro país por uma margem considerável.
Atualmente, cerca de um em cada 20 carros comprados na China é movido a eletricidade.
As autoridades chinesas e representantes da indústria automobilística preveem que quase todos os veículos novos vendidos na China serão totalmente elétricos ou híbridos até 2035.
Determinar o quanto a mudança para veículos elétricos reduz as emissões não é simples – principalmente quando se leva em consideração as fontes de fabricação e de carregamento.
Mas estudos sugerem que as emissões ao longo da vida útil dos veículos elétricos são normalmente inferiores às dos equivalentes a gasolina e diesel.
Isso é importante porque a queima de combustível do transporte é responsável por cerca de um quarto das emissões de carbono, sendo os veículos rodoviários os maiores emissores.
A China também vai produzir, até 2025, baterias com o dobro da capacidade das usadas no restante do mundo.
Observadores afirmam que isso permitirá o armazenamento e a liberação de energia de fontes renováveis em uma escala antes impossível.
A terra da China está ficando mais verde
Mudar a forma de produção de energia não significa que a China parará de produzir emissões de gases do efeito estufa.
Isso significa que a China vai cortar as emissões o máximo possível e absorver o que sobrar, por meio de uma combinação de diferentes abordagens.
Aumentar a área de terra coberta por vegetação ajudará no processo, pois as plantas absorvem dióxido de carbono.
Aqui, novamente, há notícias encorajadoras. O país está se tornando mais verde em um ritmo mais rápido do que qualquer outro país, em grande parte como resultado de seus programas florestais projetados para reduzir a erosão do solo e a poluição.
Também é em parte resultado do replantio de campos para produzir mais de uma colheita por ano, o que mantém a terra coberta de vegetação por mais tempo.
Qual o próximo passo?
O mundo inteiro necessita que a China seja bem-sucedida na questão climática.
“A menos que a China se ‘descarbonize’, não vamos vencer as mudanças climáticas”, disse o professor David Tyfield, do Lancaster Environment Center.
A China tem algumas grandes vantagens, principalmente sua capacidade de seguir estratégias de longo prazo e mobilizar investimentos de grande escala.
As autoridades chinesas enfrentam uma tarefa colossal. O que acontece a seguir dificilmente poderia ser mais importante. (BBC)