Juíza entendeu que Patrícia Nogueira ‘foi discriminada pelo fato de ser mulher’. Empresa responsável pela gestão do Pontão do Lago Sul pagou R$ 3 mil nesta quinta-feira (16).
A servidora pública Patrícia Nogueira, que foi repreendida ao andar de bicicleta usando short e a parte de cima do biquíni, à beira do Lago Paranoá, recebeu R$ 3.056,66 de indenização por danos morais, após determinação da Justiça do Distrito Federal. O valor foi pago nesta quinta-feira (16) pela empresa responsável pela gestão do Pontão do Lago Sul.
A condenação ocorreu em agosto. A juíza que analisou o processo, Maria Rita Teizen Marques de Oliveira, disse que não tem “dúvida que a autora foi discriminada pelo fato de ser mulher em um parque público”.
A Empresa Sul Americana de Montagens (Emsa) poderia recorrer, mas, preferiu não dar continuidade ao processo. O G1 tenta contato com a direção.
O caso, registrado em vídeo (veja acima), aconteceu no dia 7 de maio. Na gravação feita por Patrícia Nogueira – a mulher abordada – é possível ver que um homem passa sem camisa, mas não é alertado pelo segurança.
De acordo com Patrícia, a empresa já fez o depósito, e a servidora pública aguarda que o dinheiro chegue à conta.
“Pode demorar, mas o dinheiro será doado e estou muito feliz em poder fazer isso. Nunca imaginei que aquela manhã de sol fosse render tanta polêmica”, conta.
Patrícia disse ao G1 que planeja doar a quantia a alguma entidade que trabalhe com apoio a mulheres vítimas de violência doméstica. “Quero dar minha contribuição para o fim disso. Sou mãe de menina, venho de uma família onde somos todas mulheres, minha mãe foi abandonada por um marido violento (meu pai). Acredito que isso não tenha ocorrido comigo por obra do simples acaso”, afirma.
“É um drama muito grande e sinto que o meu caso tem relação direta com isso. O machismo estrutural sutil pavimenta caminho para violências maiores, não tenho dúvidas disso. Além da polêmica, que renda também alguma coisa boa a quem precisa”, explica Patrícia.
Relembre o caso
Patrícia andava de bicicleta usando short e a parte de cima do biquíni quando o segurança pediu para que ela vestisse a camiseta. A servidora, então, começou a filmar a abordagem. Nesse momento, um homem sem camisa passou ao lado. No vídeo, ela questionou o vigilante se ele não abordaria o outro frequentador.
“Eu não posso de short e a parte de cima do biquíni, mas homem sem camisa pode, é isso?”, questionou Patrícia.
Em resposta, o segurança disse que “mulher de biquíni não pode”, mas que homem sem camisa “não tem problema”, desde que não esteja com traje de banho.
“Estava de short, camiseta [na mão], tênis. Por baixo da camiseta, a parte de cima do biquíni. Quando um segurança do local me abordou de forma muito educada e me pediu que vestisse a camiseta pois ali não é permitido circular em trajes de banho”, contou a mulher em entrevista, à época.
Após o caso ser revelado, a administração do Pontão do Lago Sul disse que “não compactua com tal situação e repudia todo e qualquer tipo de discriminação”.