Plantas aquáticas liberam entre 0,6 a 1,3 milhão de toneladas do alimento, principalmente na forma de sacarose — o que implica no armazenamento de carbono do planeta; entenda
O oceano guarda inúmeros mistérios ainda não descobertos em suas profundezas — desta vez, cientistas encontraram montanhas de açúcar escondidas em prados de ervas marinhas. Esse oásis subaquático foi descrito em estudo publicado na segunda-feira (2) na revista Nature Ecology & Evolution.
Uma enorme quantidade de açúcar é liberada pelas ervas marinhas em seus solos, chamados de rizosfera. No mundo todo, essas plantas aquáticas liberam entre 0,6 a 1,3 milhão de toneladas do componente, principalmente na forma de sacarose, segundo explica Manuel Liebeke, chefe do grupo de pesquisa. “Isso é mais ou menos comparável à quantidade de açúcar em 32 bilhões de latas de coca!”, ele afirma, em comunicado.
A alta concentração desse açúcar todo surpreende, já que o mais comum é que microorganismos no oceano consumam o componente rapidamente. Porém, os cientistas descobriram que as ervas marinhas excretam compostos fenólicos, e estes impedem a maioria dos micróbios a degradarem o açúcar.
“Vinho tinto, café e frutas estão cheios de compostos fenólicos, e muitas pessoas os tomam como suplementos de saúde”, conta Maggie Sogin, primeira autora da pesquisa. “O que é menos conhecido é que os fenólicos são antimicrobianos e inibem o metabolismo da maioria dos microrganismos.”
Esse processo permite que o açúcar permaneça enterrado nos prados de ervas, sem ser convertido em gás carbônico e devolvido às águas e à atmosfera. Isso significa, portanto, que as montanhas de sacarose têm uma implicação importante para o armazenamento de carbono na Terra: só 1 km² das ervas marinhas já guarda quase o dobro de carbono das florestas — e isso ocorre 35 vezes mais rápido no oceano.
A equipe de pesquisadores, liderada por cientistas do Instituto Max Planck de Microbiologia Marinha, na Alemanha, estimou que a concentração de açúcar no prado subaquático seja pelo menos 80 vezes maior do que a medida anteriormente em ambientes marinhos. Mas, por que as plantas produzem tanto desse componente para depois jogá-lo no solo?
Nicole Dubilier, uma das autoras da pesquisa, explica que as ervas realizam fotossíntese, ou seja, usam a maior parte dos açúcares para seu próprio metabolismo e crescimento. “Mas sob condições de muita luz, por exemplo, ao meio-dia ou durante o verão, as plantas produzem mais açúcar do que podem usar ou armazenar. Em seguida, elas liberam o excesso de sacarose em sua rizosfera”, ela detalha.
Se as montanhas de açúcar fossem degradadas pelos micróbios, cientistas estimam que haveria uma grave liberação de carbono, piorando as mudanças climáticas. Os pesquisadores estimam que pelo menos 1,54 milhão de toneladas do gás seriam liberadas. “Isso é equivalente a aproximadamente a quantidade de dióxido de carbono emitida por 330 mil carros em um ano”, compara Liebeke.
Fonte: revistaGalileu*