Reencontro com Edmilton Cerqueira, Secretário Nacional de Territórios e Sistemas Produtivos Quilombolas e Tradicionais do MDA
Arquivo pessoal
Maria José Rocha Lima
Rui Aragão, filho do músico e compositor baiano Wilson Aragão, me convidou para acompanhá-lo em visita à época presidente da Frente Parlamentar da Educação, na Câmara dos Deputados. Tínhamos batido a cara na porta da tal deputada, que não abre nem para o trem. Mas fomos socorridos por Fábio, assessor do deputado mineiro Paulo Guedes, que é ciente do fenômeno parlamentar e nos acudiu, convidando-nos para tomar um café, e, conversa vai e vem, Rui informou-lhes que fui deputada, e a conversa rendeu.
Lá, conheci Rodrigo Teles, presidente da Associação de Vereadores do Brasil. Rodrigo é um político de garra e muita dedicação à causa das populações que vivem na região do São Francisco. Nos identificamos, e ele, ao conhecer a minha história e experiência como deputada, me convidou a acompanhá-lo numa audiência com o Ministro do Desenvolvimento Agrário, Paulo Teixeira. Tentei evitar, explicando que estava afastada do PT e quem sabe poderia causar algum constrangimento, mas ele na hora da audiência veio ao meu encontro, na portaria do prédio onde moro. E tudo de bom aconteceu!
Primeiro, conheci um excepcional Ministério na Esplanada que funciona de forma profissional, protocolar e técnica. Fomos recebidos no hall pela chefe de Gabinete, conhecida pela competência e gentileza, Fabiana Zamora, uma antiga companheira da Câmara dos Deputados. Em seguida, fomos conduzidos a uma antessala para alinharmos a pauta, sermos instruídos por um jovem assessor, João, que buscou melhor entender as políticas e os recursos dos quais os vereadores tratariam e poderiam dispor na discussão da audiência. Finalmente, a audiência, todos os nomes devidamente registrados em placas de identificação previamente confeccionadas, parecendo observar a autoridade e competência para decidir. Chega o ministro, cordial e bem informado. As soluções apresentadas em datashow, com as alternativas viáveis. As discussões, como foram anteriormente preparadas, deslizavam sem excessos de palavras ou intercorrências.
De repente, entra na sala Edmilton Cerqueira, Secretário Nacional de Territórios e Sistemas Produtivos Quilombolas e Tradicionais do MDA, meu amigo, foi um dos coordenadores da minha campanha para deputada, sempre atuou nos Movimentos Sociais e principalmente no Movimento Negro. Tendo participado com a Diretora de Escola Maria do Carmo (Fofinha), que integrou o movimento que recolheu quase 2 milhões de assinaturas em favor dos capítulos do Negro, da Educação e da Mulher na Constituição Baiana. Edmilton se dirigiu ao Ministro Paulo Teixeira, pedindo para quebrar o protocolo e prestar uma homenagem, no que foi atendido. Prestou – me uma homenagem, inventariando os feitos mais relevantes ao lutar por um capítulo do Negro na Constituição de Fundo para a Educação. No mandato criou a Medalha Libertadores da Humanidade que levou Mandela à Bahia; instituiu por Projeto de Resolução sessão solene no Dia da Consciência Negra; me destacando especialmente como a primeira deputada negra da Bahia e que cumpriu eticamente todos os seus compromissos. Fomos aplaudidos. E naquele momento considerei ter recebido uma Comenda. Também compreendi que comportamento como esse do Ministro Paulo Teixeira, Fabiana Zamora, Edmilton Cerqueira, Rodrigo Teles e demais companheiros e demais companheiros denotam que democracia é possível: ela requer respeito a regras comuns, reconhecimento da legitimidade dos que pensam diferente, tolerância e diálogo.
Maria José Rocha Lima é Mestre EM Educação pela Universidade Federal da Bahia. Foi deputada Estadual da Bahia de 1991 a 1999. É doutora em Psicanálise. Presidente da Casa da Educação Anísio Teixeira. É Coordenadora de Expansão da Soroptimist International -SI –e do Clube SI – Brasília Sudoeste.