segunda-feira, 29/12/25
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Missa de Sétimo Dia – Por que sete dias?

Arquivo pessoal

 

Maria José Rocha Lima*

Celebramos a Missa de Sétimo Dia do falecimento de minha mãe, Dona Teresinha Melo Rocha Lima, para declarar que ela e nós fazemos parte do Corpo de Cristo. As coisas de minha mãe sempre guardaram algum mistério e, de modo silencioso, sempre nos ensinaram sobre os mistérios da vida, especialmente da vida cristã.
Ela faleceu em Salvador e, inicialmente, não me ocorrera realizar a missa aqui em Brasília. De repente, recebi uma ligação da professora e amiga Ruth Rocha, que manifestou o desejo de celebrar uma Missa de Sétimo Dia para Dona Teresinha na Igreja de Santo Antônio. A missa realizada nessa igreja, em Brasília, é transmitida pelos meios de comunicação.
Ruth não sabia que minha mãe era uma devota fervorosa de Santo Antônio. Dona Teresinha nasceu em 12 de junho, mês dedicado às celebrações do santo. Quando estava em Brasília, não faltava às missas das terças-feiras e chegou, inclusive, a ser atendida pela psicóloga Rivaneide, que presta serviço voluntário na Igreja de Santo Antônio.
Foi também muito significativo constatar que o sétimo dia de seu falecimento coincidiria com o Natal. Assim, a missa só poderia ser realizada na terça-feira, dia que ela sempre dedicou a Santo Antônio.
Todas as terças-feiras, Dona Teresinha rezava o Responso de Santo Antônio, do qual ainda guardo de memória alguns versos:
Se milagres desejais,
Recorrei a Santo Antônio;
Vereis fugir o demônio
E as tentações infernais.
Recupera-se o perdido,
Rompe-se a dura prisão;
E no auge do furacão,
Cede o mar embravecido.
Pela sua intercessão,
Foge a peste, o erro, a morte;
O fraco torna-se forte
E o enfermo torna-se são.
A Missa de Sétimo Dia é também providência. Foi em Angola que, pela primeira vez, conheci o ritual do funeral de sete dias. À época, não conseguia conectar aquela prática com a realidade brasileira, onde também se reza a Missa de Sétimo Dia, em parte devido à extensão territorial do país. Parentes que não conseguiam chegar a tempo para o velório vinham dias depois; assim, a missa permitia que os familiares distantes estivessem com a família e rezassem pelo falecido.
Rezar é, ainda, uma oportunidade para aqueles que ficam: louvar a Deus pelo dom da vida de quem partiu e refletir sobre a própria existência. Celebrar uma Missa de Sétimo Dia é, portanto, também um convite à conversão interior.
Aprendi, então, o sentido mais profundo da pergunta: por que sete dias?
Na Bíblia, o número sete indica plenitude e perfeição. Em sete dias, Deus criou o mundo (Gn 2,2). Na história de Noé, choveu durante sete dias e, após outros sete, a pomba trouxe o ramo de oliveira, sinal do fim do dilúvio (Gn 8,10). Quando Jacó morreu, José fez luto por sete dias (Gn 50,10). Para um sacrifício purificador, eram necessários sete dias de expiação (Êx 29,36-37). A mulher, após o parto, só era considerada purificada no sétimo dia (Lv 12,2). O leproso, para ser declarado limpo, precisava de sete ritos de purificação (Lv 14,7).
Nos Evangelhos, Jesus multiplicou os pães com sete (Mt 15,36) e ensinou a Pedro que se deveria perdoar setenta vezes sete (Mt 18,22). No encontro com a samaritana, ela havia tido cinco maridos e vivia com o sexto, mas encontrou o Sétimo, Jesus, que lhe ofereceu a água viva (Jo 4,1-26).
O sete indica perfeição, percurso, perseverança. Na oração por um falecido, reza-se também esse significado: pede-se que a alma seja purificada e acolhida na plenitude do amor de Deus.

*Maria José Rocha Lima é Mestre em Educação pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Doutora em Psicanálise e exerceu mandato como Deputada no período de 1991 a 1999.

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