Coronel Julian Rocha Pontes, exonerado do cargo de comandante-geral da corporação após caso vir à tona, está entre investigados. Promotoria avalia se ocorreu crime ou improbidade administrativa.
O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) começa a ouvir os policiais militares que tomaram doses remanescentes da vacina contra a Covid-19, conhecidas como “xepas”. Entre os investigados está o coronel Julian Rocha Pontes, exonerado do cargo de comandante-geral da corporação após o caso vir à tona.
Além de Julian, a 2ª Promotoria de Justiça de Defesa da Saúde (Prosus) vai ouvir o coronel Cláudio Fernando Condi, ex-subcomandante-geral, e o tenente-coronel Eduardo Condi, subcomandante operacional do 2ª Comando de Policiamento. A oitiva está prevista para ocorrer entre esta quinta e segunda-feira (19). A reportagem tenta contato com os envolvidos.
O MPDFT investiga se os militares cometeram crime ou uma improbidade administrativa – quando um funcionário público usa o cargo para se beneficiar. A hipótese é de que os policiais tenham usado a patente para conseguir a imunização, já que a orientação é de que as doses remanescentes sejam aplicadas em profissionais da linha de frente.
Até o momento, o promotor Clayton Germano reuniu documentos e notificou os três coronéis. Após os depoimentos, ele vai decidir o que pode ser feito, como ouvir testemunhas ou analisar mais documentos.https://tpc.googlesyndication.com/safeframe/1-0-38/html/container.html
À época, o coronel Julian disse que, apesar do caso ter sido classificado como “inoportuno”, o ato “não foi ilegal”. “Em nenhum momento furei os critérios estabelecidos para a vacinação, sendo vacinado dentro das doses remanescentes, após o término do período regular e sob a coordenação do funcionário da Secretaria de Saúde”, disse.
Em nota, a Polícia Militar informou que o ex-comandante-geral tomou a vacina “amparado nas informações divulgadas pelo governo do Distrito Federal, que afirmava que as doses remanescentes das vacinas seriam destinadas aos policiais militares”. Questionada, a corporação não respondeu se abriu apuração interna para avaliar o caso.
Exoneração e aposentadoria
Em 2 de abril, o coronel Julian foi exonerado a pedido do governador Ibaneis Rocha (MDB), quando o recebimento da dose da vacina contra a Covid-19 veio à tona. Nesta quarta-feira (14), a transferência do militar para a reserva foi publicada no Diário Oficial do Distrito Federal.
O ex-comandante-geral disse que a passagem para a reserva remunerada já era prevista para abril. De acordo com o policial, desde o início do ano, ele tem tempo de serviço necessário para o pedido.
A Polícia Militar informou que o coronel solicitou o ingresso na reserva remunerada “logo após a exoneração”.
Doses remanescentes
A “xepa” é o que sobra de doses da vacina após abertas. Cada frasco da CoronaVac contém 10 doses, que precisam ser aplicadas em até 8 horas no máximo. Já o imunizante Covishield, contém 10 doses e duração de 6 horas.
No dia 29 de março, durante coletiva à imprensa, o secretário de Saúde, Osnei Okumoto, afirmou que trabalhadores “mais velhos” terão prioridade no recebimento das doses remanescentes.
“Se tiver uma dose e dois policiais de escolta, essa dose vai ser usada para o profissional mais velho”, disse o secretário de Saúde.
A vacinação para profissionais da segurança pública do DF começou no dia 5 de abril. O GDF reservou doses para policiais civis, militares, bombeiros, além de policiais penais, federais e rodoviários.
Quem são os policiais da linha de frente contra a Covid-19
Um documento da Secretaria de Saúde considera policiais na “linha de frente”:
- Aqueles que exercem atividades de rua e prestam serviços essenciais, como apoio nas fiscalizações no combate a aglomerações, na distribuição e escolta das vacinas;
- Que atuam na segurança e manutenção da ordem nos postos de vacinas, na organização dos pontos de drive-thru e nos atendimentos pré-hospitalares;
- Que estejam em serviço, prestando apoio na segurança local nos minutos finais que antecedam o término das atividades de todos os postos de vacinas contra Covid-19, seguindo sempre a ordem de prioridade por idade desses profissionais.