Cardápio sempre tem proteínas, carboidratos, frutas e hortaliças; gestores de escolas públicas falam como administram a oferta de alimentação
Toda segunda-feira, a Escola Classe 15 de Ceilândia recebe os alimentos perecíveis e não perecíveis destinados à produção da merenda da semana.
Na lista estão os chamados “gêneros” que compõem o cardápio sugerido pelos nutricionistas da Secretaria de Educação (SEE).
Para assegurar o valor nutricional necessário a cada estudante, estão garantidos proteínas, carboidratos, frutas e hortaliças divididos.
“Todas as regionais de ensino recebem a quantidade de gêneros de acordo com o quantitativo de alunos. Se meu aluno come uma maçã aqui, todos os alunos da rede pública do DF vão comer maçã também”, afirma o vice-diretor da EC 15, Ricardo da Silva Koziel.
A única diferença da unidade é o formato integral, o que duplica os ingredientes recebidos, devido ao fato de os alunos terem cinco refeições por dia – a média é de até três nas demais escolas.
De acordo com a Secretaria de Educação, a alimentação dos 429.762 estudantes contemplados diariamente com merenda é assegurada com 59 tipos de produtos alimentícios fornecidos. Desses, 32 itens são fornecidos pelos 854 produtores da agricultura familiar que integram os 16 contratos do GDF com cooperativas.
A variedade de ingredientes permite a manutenção do valor nutricional, mesmo quando algum item está em falta. Ricardo Koziel explica ainda que cada regional de ensino pode solicitar ingredientes a outras unidades.
“Se eu sei que faltará arroz, por exemplo, meu papel como gestor é falar com a nutricionista. Ela vai fazer uma guia de transferência e procurar uma escola que tenha o gênero sobrando. Do ponto de vista teórico, a merenda nunca vai faltar. Sempre vai sobrar, porque ela sempre vem para o total de alunos, e temos sempre algum faltante. A tendência é que o saldo seja maior na dispensa”, avalia.
A Secretaria de Educação necessita de 4,3 mil toneladas de gêneros perecíveis e 746.143,90 quilos de gêneros não perecíveis, por ano, para atender as escolas do DF.
Liberdade para o cardápio
Apesar de disponibilizar de nutricionistas e sugestões nos cardápios, a secretaria deixa as unidades à vontade para adaptações na alimentação dos estudantes. “É preciso fazer uma gestão de alimentos. Está faltando carne vermelha, por isso está vindo muito peixe e frango, que também são proteínas”, explica.
“O que eu tento fazer é pesquisar e sugerir outras formas, ao molho, assado e panache [receita com mistura de legumes]. Isso dá trabalho. Mas a nossa função é oferecer uma alimentação saudável e nutritiva para os nossos alunos”, explica o vice-diretor da Escola Classe 15 de Ceilândia.
Merendeira há nove anos na escola, Maria de Lourdes Silva, 63, diz que criatividade é o que não falta na cozinha da EC 15: “A gente procura garantir uma comida variada, balanceada e colorida e tenta cumprir o cardápio proposto à risca”.
Na avaliação do vice-diretor, as adaptações do cardápio também servem para estimular a reeducação alimentar. Ele cita crianças que aprenderam a comer brócolis e outros alimentos na escola.
“A merenda na escola integral tem um efeito de distribuição de renda. O dinheiro que o pai economiza com alimentação pode ser gasto com outra coisa. Temos alunos carentes que passam fome em casa. Eles falam que o dia mais alegre é a segunda-feira e o mais triste é a sexta-feira, porque no sábado e no domingo não sabem o que vão comer”, lamenta o gestor.
Esse foi o caso dos irmãos Mesquita Silva, Luís Davi, 11 anos, e Lara, 8, que provaram, pela primeira vez, canja e chuchu na merenda da EC 15. “Eles gostam bastante da merenda. Para mim, é muito bom. Porque o meu custo com os alimentos diminuiu. O que eu comprava para uma semana, hoje dura um mês”, afirma Nathália Souza Mesquita, mãe dos estudantes e voluntária da escola.
A autônoma Adriana Vieira Gonçalves, 44 anos, explica que desde que a filha Pietra, 9 anos, começou a estudar na Escola Classe 15 de Ceilândia, ela acompanha a merenda. “Para mim, é maravilhoso, porque é oferecida uma boa alimentação para a minha filha”, comenta. O prato favorito de Pietra é salada. “Ela nunca foi uma criança com dificuldade de se alimentar, mesmo em casa, mas aqui tem uma variação maior na alimentação”, completa.
Muitas crianças acabam tendo contato na escola com frutas, verduras e legumes. Isaac Lourenço, 7 anos, gosta do momento do lanche em que pode comer alimentos como banana e melancia. “Eu gosto da hora da merenda. Como tenho alergia a leite, eu gosto de comer banana e melancia. No almoço, eu gosto de arroz, feijão e frango”, revela.
Já Mariana Juliana da Silva, 8 anos, destaca a proximidade dos alunos com os ingredientes. A escola conta com uma horta com alface e cebolinha que é cuidada e colhida pelos estudantes para incrementar o cardápio. Eles também são ensinados a reproduzir a horta em casa. “A gente sempre vai lá [à horta] para regar”, explica Mariana, que, toda animada, levou algumas folhas para as merendeiras.
Com informações da Agência Brasília