Empresas aumentam diversidade no quadro de colaboradores e deixam capital acima da média nacional de empregabilidade
O Distrito Federal deu um importante passo na política de emprego e renda para pessoas com deficiência. Dados da secretaria de Trabalho (Setrab) divulgados em 2020, revelaram que o DF, mesmo com a pandemia, conseguiu atingir uma importante marca no que se refere ao mercado de trabalho para esse grupo. Entre janeiro a setembro do ano passado, 2.326 vagas foram destinadas para este público, e 604 foram preenchidas, correspondendo a 25,9% do total, enquanto a média nacional foi de 12%. “Muitas empresas estão criando oportunidades para essas pessoas, às quais somos muito gratos”, comemora o secretário executivo da pasta Ivan Alves dos Santos.
Inserido nesses números está Daniel Avelino dos Santos, de 19 anos. O deficiente auditivo, via Agência do Trabalhador, conseguiu ser chamado para duas vagas de emprego como repositor de mercadorias. “Aqui é mais fácil, porque tem o apoio dos intérpretes para procurar as empresas e aí pegar a carta de encaminhamento”, conta o morador do Varjão. Tal resultado é reflexo da união entre a Setrab e a Secretaria da Pessoa com Deficiência (SEPD), que combinaram esforços para potencializar vagas para este público em específico.
A Agência do Trabalhador da Estação 112 Sul do metrô, local onde Daniel conseguiu a vaga, é a unidade especializada em acolher pessoas com deficiência, por ter 100% de acessibilidade e também por contar com a Central de Interpretação de Libras, que auxilia os deficientes auditivos na tradução e interpretação dos atendimentos. “Isso vem a mostrar, inclusive para as outras unidades da federação, que a aplicação de algumas técnicas de atendimento a esse público podem render frutos lá na frente com o preenchimento das vagas”, finaliza Ivan.
O reconhecimento e respeito a uma cultura inclusiva é algo que tem trazido inúmeros benefícios ao mundo corporativo. A troca de experiências para a criação de soluções e o aumento da criatividade organizacional são apenas duas dessas vantagens agregadas. Contudo, a inclusão precisa ir além e ser, de fato, abrangente para garantir um ambiente de respeito e com oportunidades iguais de crescimento.
Consultoria para empresas interessadas
Pensando em manter esses números em crescimento, o Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos (Uniceplac) oferece consultoria gratuita para implementação de programas de inclusão e diversidade nas corporações. O projeto promove práticas que visam uma cultura transformadora e inclusiva, e visa estimular a representatividade nas empresas, transformando a diversidade em valor competitivo e apoiando o desenvolvimento profissional de sub-representados pela sociedade. ‘‘Queremos ampliar a consciência sobre a importância da representatividade no mundo corporativo. Empresas que trabalham com esse tema são mais capazes de estabelecer relacionamentos duradouros com todo o público e ainda se destacar no mercado de trabalho”, comenta Hannah Souza, professora de psicologia e coordenadora do projeto.
Segundo a profissional, a consultoria será aplicada conforme o perfil e as necessidades de cada organização participante. A ideia é realizar, a princípio, um diagnóstico para recolher todos os dados necessários e avaliar o ambiente de trabalho da empresa. Isto feito, um programa é montado conforme as informações obtidas, focando, sempre, em ações proativas. Além disso, elaboramos estudos focais e realizamos entrevistas individuais com mulheres, negros, homossexuais e pessoas que apresentam algum tipo de deficiência, entre outras, para evidenciar as percepções sobre o tema de grupos sub-representações. A iniciativa faz parte do programa de iniciação científica do curso de psicologia do Uniceplac’’, esclarece Hannah.
A coordenadora do projeto argumenta ainda que, empresas que apoiam seus profissionais, contribuem para a construção de um ambiente plural e democrático. A representatividade de diferentes grupos potencializa a confecção de serviços e produtos adequados a esse público. “Veja o exemplo da Google, que contrata pessoas com deficiência auditiva para pensar na disposição dos subtítulos no Youtube’’ desenvolve. Ela chama a atenção ainda, para um reconhecimento mais recorrente por parte das organizações, dificultado por dúvidas e desinformação quanto sua aplicação prática. “Isto porque, a implementação de práticas verdadeiramente inclusivas requer uma mudança cultural perante o diferente. Assim, podem acreditar que já estejam fazendo a sua parte ao contratar uma pessoa pertencente a um grupo de minoria, mas carecem de práticas de solução de conflitos decorrentes do contato com o desconhecido e novo”, declara.
De forma geral, a psicóloga acredita que a população no mercado de trabalho se tornou cada vez mais diversa, e os clientes buscam soluções mais diferenciadas e adequadas às suas necessidades. “De certa forma, a pandemia pode ter deixado mais evidente a fragilidade da vida e uma necessidade de autoafirmação e autorrealização através de produtos/serviços consumidos”, pondera. “Estrategicamente falando, empresas que procuram construir um quadro funcional mais diverso tem potencial de atender essas necessidades diferenciadas porque aprendem com a diversidade que está presente entre os próprios funcionários, promovendo a inovação”, acrescentou Hannah.
Política Pública
No Brasil, o artigo 93 da Lei nº 8.213/91 estabelece que empresas com 100 ou mais empregados devem reservar uma parcela de seus cargos, entre 2% e 5% (a depender do tamanho do quadro de funcionários), para pessoas com deficiência. “Junto à Setrab, estamos fazendo ações mais específicas, através da Agência do Trabalhador, na captação de vagas e preparação das pessoas com deficiência para estarem mais aptas, e também uma orientação às empresas sobre aquilo que elas precisam investir em tecnologias, melhorias físicas, cursos de libras, entre outras coisas”, pontua a secretária de Pessoa com Deficiência, Rosinha do Adefal.
A SEPD e a Setrab também estão encarregadas de prestar apoio técnico à implementação de ações que promovam o acesso às políticas de trabalho, emprego, renda e empreendedorismo da pessoa com deficiência, articular-se com entidades públicas ou privadas, em qualquer esfera, para efetivar os objetivos do documento, fortalecer as relações institucionais com agentes que atuam na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, e divulgar os resultados obtidos a partir da assinatura do documento. “Para nós, pessoas com deficiência, o emprego é muito mais do que uma fonte de sustento: é a garantia da nossa dignidade como cidadão”, defende Rosinha. “Ainda existem empresas que contratam PcDs apenas para cumprir cotas. Ela fica com o empregado durante o período de três meses e depois o demite”, finalizou.
Adaptação
Conforme elucida Oto Tertuliano de Oliveira, professor de Administração no CEUB e especialista em Gestão Pública, em cada tipo de empresa algumas adaptações terão que ser efetivadas para receber esses funcionários. Uma delas, são os sanitários. “No projeto arquitetônico já deve estar contemplado um sanitário específico com adaptações de barras, de vaso sanitário, medidas na porta e espelhos inclinados, por exemplo”, pontua.
Outros pontos importantes são, para empresas de atendimento ao público, a sinalização do solo em alto relevo. “Outra questão bastante incentivada nas médias e grandes empresas, é a adoção, no quadro de funcionários, intérpretes de libras”, completa. Essas adaptações, por sua vez, irão depender da atividade exercida e serviço ofertado pela empresa. (JBr)