Segundo os especialistas, esses insetos, que estão em período de reprodução, são atraídos por focos de luz e, por isso, costumam entrar nas casas
SÃO PAULO, SP (FOLHAPRESS) – O mistério do surto de coceira que tomou o Grande Recife nas últimas semanas, segundo dermatologistas, está resolvido. De acordo com uma dupla de médicos que estudou o caso, mariposas do gênero Hylesia são as responsáveis pelos problemas de pele.
A Secretaria Executiva de Vigilância em Saúde do Recife, porém, não descarta outros motivos para as lesões na pele relatadas principalmente no tronco e nos braços, acompanhadas de coceira.
Cláudia Ferraz, membro de força-tarefa criada pela administração municipal para investigar os episódios, e Vidal Haddad Junior são os dermatologistas responsáveis pelo estudo para determinar as causas do problema, dizem que as culpadas são as mariposas do gênero Hylesia.
Segundo os especialistas, esses insetos, que estão em período de reprodução, são atraídos por focos de luz e, por isso, costumam entrar nas casas. Quando se debatem contra lâmpadas, liberam cerdas corporais minúsculas que penetram na pele humana, o que gera a intensa coceira.
De acordo com Haddad Junior, a demora em definir a razão da coceira foi por causa da falta de comunicação. “Houve um pouco de demora no diagnóstico, criou-se o pânico, vieram hipóteses absurdas. Na verdade, era uma coisa simples.”
Entre os motivos “absurdos”, a escabiose (sarna humana) foi logo descartada pelos médicos. “O tipo de transmissão é outro, a distribuição e aspecto das lesões cutâneas eram distintos e nenhum ácaro foi achado em muitas amostras de exame direto e exames histopatológicos”, diz nota da Sociedade Brasileira de Dermatologia. Alergia ou picadas de insetos também estavam entre as hipóteses.
Em novembro, um artigo produzido por pesquisadores da Ufal (Universidade Federal de Alagoas) apontou como possível causa o uso indiscriminado de ivermectina. O medicamento é usado em tratamento de sarna e piolho e também faz parte do chamado “kit Covid”, conjunto de remédios sem eficácia comprovada no combate à Covid-19.
Para Marcella Abath, secretária executiva de Vigilância em Saúde do Recife, não é possível descartar outras hipóteses, mas a que envolve a mariposa é a mais forte até agora. “São todos os casos? Provavelmente não. Certamente tem relatos que são de outras questões, como acontece no dia a dia.”
De acordo com a prefeitura, os trabalhos de campo, monitoramento e investigação devem ser finalizados até o fim da semana. A equipe de trabalho conta com dermatologistas, infectologista e epidemiologista.
A proximidade com a mata chamou a atenção desde o começo, com grande parte dos casos ocorrendo a cerca de 250 metros da mata atlântica. Tanto é que mais da metade dos 235 relatos registrados no Recife se concentram em Dois Irmãos e Guabiraba, bairros vizinhos à região.
Os primeiros casos em Pernambuco surgiram no início de outubro, mas se intensificaram na virada do mês. Em menos de uma semana, no fim de novembro, as notificações pularam de 185 para 427, de acordo com informações divulgadas por prefeituras. Na capital, 49 bairros registraram relatos.
Haddad Junior lembra que surtos semelhantes já foram notificados nos últimos anos em outras localidades, como em Jundiaí, São Vicente e Ubatuba, cidades paulistas. “O animal é pequeno, cinzento, e não chama a atenção. Mariposa dentro de casa de vez em quando todo mundo tem. Então demorou para as pessoas associarem.”
São poucas as mariposas que geram esse problema, ele destaca. No caso do gênero Hylesia, “elas se debatem contra a luz e os pelos do abdômen se soltam e ficam no ar, na cama, na mesa”, explica o médico.
De acordo com o médico, o surto deve ter passado. “A mariposa não deve estar mais lá. Pode ser que nunca mais aconteça lá, mas pode ser que aconteça outro [episódio]. É completamente aleatório.” Ele ainda recomenda que as pessoas procurem profissionais da saúde e evitem se automedicar.
A prefeitura também aconselha que portas e janelas sejam mantidas fechadas para evitar que o inseto entre em casa. Outra recomendação é que os moradores passem pano em casa, em vez de varrer, para que as cerdas da mariposa não sejam espalhadas.
Abath também indica que não se deixe roupa no varal e que se controle a luz artificial, já que é um ponto que atrai o animal.