Por causa do aumento no número de casos de covid-19, que ultrapassou os verificados em abril e maio de 2020, no auge da pandemia, prefeitura da capital decreta estado de emergência ante a possibilidade de colapso do sistema de saúde e funerário
Manaus está, desde ontem, em estado de emergência por 180 dias. O decreto do prefeito David Almeida (Avante), que decidiu adotar a medida por causa do avanço da covid-19 na capital amazonense, prevê a contratação temporária de pessoal, de serviços e aquisição de bens e materiais, entre outras medidas. O Decreto 5.001 foi publicado no Diário Oficial do Município (DOM), na última segunda-feira, e trata sobre “situação anormal” na cidade.
A capital voltou a ter hospitais lotados por conta da covid e, nos últimos dias, houve recorde de novas internações, que ultrapassaram os números de abril e de maio de 2020 — quando o sistema público de saúde e o funerário colapsaram em Manaus. O cemitério Nossa Senhora de Aparecida, o maior da cidade, voltou a abrir dezenas de covas diárias para os sepultamentos e a ter filas de carros funerários.
Entre abril e maio do ano passado, a rede pública manauara de saúde operou com quase 100% dos leitos ocupados. Caixões foram enterrados um por cima do outro e em valas comuns. Até a última segunda-feira, mais de 5,3 mil pessoas morreram vítimas da covid-19 em todo o Amazonas.
O decreto publicado pelo prefeito determina, também, a suspensão da autorização para eventos até 31 de janeiro, a proibição do corte das contas de água e esgoto até 31 de março e o estabelecimento do teletrabalho na administração municipal até 31 de março — estão suspensos os atendimentos presenciais, exceto o das atividades essenciais, que acontecem de 8h as 14h, mas com revezamento de servidores.
Em apoio à decisão da prefeitura manauara, o governo do Amazonas também voltou a decretar o fechamento de atividades não essenciais por 15 dias, após determinação da Justiça.
Festas de fim de ano
Werciley Júnior, infectologista e chefe da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Santa Lúcia, em Brasília, explicou que ainda é cedo para afirmar que resultado do aumento do número de casos por todo o país é devido às festas de fim de ano. “Em geral, leva-se 14 dias para ocorrer a manifestação dos sintomas, mas estamos apreensivos, porque sabemos que a consequência das festas de fim de ano ainda vai chegar. A tendência dos próximos dias é de aumento do número de casos e internações”, disse.
Já o PhD em Microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo (ICB-USP), Luiz Gustavo de Almeida, afirmou que, devido ao período de festividades, o vírus foi interiorizado pelo país. “As pessoas deixaram as cidades pequenas e foram passar o fim de ano nas grandes metrópoles. Ao voltarem para casa, carregam o vírus para cidades que nem sempre possuem a infraestrutura para lidar com a pandemia”, explica.
Almeida alerta que não será por causa da chegada da vacina que a covid-19 deixará de ser um sério problema. “O número de pessoas a serem vacinadas varia de acordo com a eficácia da vacina que vamos usar. Se for a da AstraZeneca, que possui uma eficácia média de 70%, precisamos vacinar 130 milhões de pessoas. Se levarmos em conta a última grande vacinação que tivemos, para a H1N1, precisaríamos de algo em torno de 200 dias para aplicar uma única dose do imunizante”, alerta. (CB)