Eles se revezam como batedores, soldados e motoristas. O “exército”, que inclui agentes públicos e ex-servidores, chega a 400 recrutados
Reprodução / Disque-Denúncia
Rio de Janeiro – Alianças para dominar territórios formam a principal estratégia do maior narcomiliciano do Rio de Janeiro, Wellington da Silva Braga, o Ecko, de 34 anos, que tem uma tropa pessoal de 100 seguranças fortemente armados. Eles se revezam como batedores, soldados e motoristas, em um grupo que inclui agentes públicos e ex-servidores.
Para ganhar força no submundo do crime, Ecko pediu a aliados para realizar um “plebiscito” entre presos da Penitenciária Bandeira Stampa, conhecida como Bangu 9, no Complexo de Gericinó, zona oeste do Rio.
A unidade que abriga milicianos e ex-PMs promoveu a votação em janeiro e, por maioria, Ecko ganhou apoio para se firmar como chefão da narcomilícia, união de milicianos e traficantes. Ele domina 20 bairros da capital e seis municípios da Baixada Fluminense e da Costa Verde.
“Sem dúvida, o Ecko é o maior criminoso nesse ramo dentro do estado do Rio. Estimamos que cerca de 400 homens trabalhem na segurança da milícia. Na segurança pessoal do Ecko, estimamos 100 homens, que se revezam entre batedores, soldados e motoristas”, afirmou o delegado-titular da Delegacia de Repressão Organizados e Inquéritos Especiais (Draco), Willian Pena Junior, uma das principais unidades de combate às milícias da força-tarefa da Secretaria de Polícia Civil do Rio.
De outubro de 2020 a janeiro de 2021, foram mais de 60 operações e 500 prisões, com prejuízo estimado em mais de R$ 1 bilhão para o braço financeiro dos criminosos. “É uma atividade em que o dinheiro advém da extorsão a comerciantes, moradores, donos de vans, tornando o lucro líquido, pois não há contraprestação de serviço. A milícia só tem o gasto de pessoal, dos milicianos. O principal ingrediente nesse ‘serviço’ é a demonstração de força por meio de homicídios, por exemplo”, declarou o delegado.
De pedreiro a bandido sanguinário
Antes servente de pedreiro, Wellington da Silva Braga herdou a chefia da milícia “Liga da Justiça”, que atua na zona oeste do Rio, do irmão Carlos Alexandre Braga, o Carlinhos Três Pontes, em 2017. Na extensa ficha criminal de Ecko, são atribuídos crimes como homicídio, extorsão e organização criminosa.
Segundo investigações que incluíram o Ministério Público, Ecko era ligado também ao miliciano Adriano da Nóbrega, ex-PM, fundador do “Escritório do Crime”, grupo de matadores de aluguel. Adriano foi morto no ano passado na Bahia. Atualmente, Ecko é um dos bandidos mais procurados do Rio, e o Disque-Denúnciaoferece R$ 10 mil por informações que o levem à prisão.
“A Draco vem realizando operações contra diversas milícias. Lideranças foram presas. O último miliciano preso que faz parte da quadrilha do Ecko tem muita expressão dentro da organização criminosa. Ronaldo Marinho, vulgo Secretário, são exemplos de operações bem-sucedidas de elementos foragidos há anos. Essas prisões causam impacto nos comparsas, que percebem que a impunidade acaba”, analisa Willian.
“A população tem confiado e denunciado cada vez mais, acho que o maior êxito tem sido esse. Somado a isso, muitos documentos, telefones celulares, informações ricas têm sido alcançadas com as medidas de buscas e apreensão feitas. Sabemos da nossa imensa responsabilidade, e o balanço realmente é positivo.”