Um incêndio destruiu nesta quarta-feira o maior campo de refugiados da Grécia, o superlotado abrigo de Moria, na ilha grega de Lesbos, deixando mais de 10 mil pessoas desabrigadas. Apesar de algumas terem sido intoxicadas após inalarem muita fumaça, ainda não há informações sobre mortos e nem sobre a origem do fogo.
– A situação é caótica. Acabei de vir de lá e a parte central do campo ainda estava queimando. Várias áreas, mais de um terço do campo, viraram cinzas. Milhares de pessoas ficaram sem abrigo para dormir – explicou ao jornal espanhol El País Thomas von der Osten-Sacken, voluntário que trabalha na associação local Stand by me Lesvos, às 9h (horário local, 3h em Brasília).
Segundo as autoridades locais, o incêndio começou após um protesto de refugiados que haviam sido isolados depois de terem sido registrados cerca de 35 casos de Covid-19 no local.
– A nova quarentena deixou as pessoas muito irritadas, especialmente porque a comunicação não tem sido feita de maneira transparente. Eles estão não têm água suficiente há meses e estão presos no campo. A segurança, principalmente à noite, é terrível, e alguns grupos criminosos proliferaram. Por isso quando ontem eles levaram essas pessoas para uma zona de total isolamento sem explicar o porquê, houve protestos – disse Von der Osten-Sacken ao El País.
De acordo com a polícia, os refugiados foram evacuados. Testemunhas disseram ter visto um grande número de pessoas deixando o campo com seus pertences. As ruas próximas ao campo foram fechadas para evitar que os refugiados fossem para cidades próximas, informou a BBC, em meio a um clima de tensão na região.
O governo grego decretou estado de emergência em Lesbos e enviou policiais para reforçar a situação do local. Pelo menos 25 bombeiros com dez veículos, auxiliados pela polícia, enfrentavam as chamas dentro e fora das instalações. Segundo autoridades, refugiados chegaram a empurrar os oficiais durante o combate ao fogo.
Uma das questões a serem resolvidas agora é o local onde essas pessoas serão abrigadas. O vice-ministro da Migração, George Koumoutsakos, informou que cerca de 3 mil imigrantes e refugiados seriam temporariamente alojados em tendas enquanto o governo tenta encontrar algum abrigo alternativo para eles. O El País ainda acrescentou que, segundo a mídia grega, há a possibilidade deles serem transferidos para uma praia próxima.
O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR) afirmou ter recebido relatos de tensões entre pessoas em aldeias vizinhas e requerentes de asilo que tentavam chegar à cidade de Mytilini.
No entanto, o prefeito de Mytilini, Stratis Kytelis, disse que os imigrantes teriam que ser movidos ou alojados em navios para evitar a disseminação da Covid-19.
– O ocorrido em Moria na noite passada é impensável, mas tragicamente previsível, já que a terrível situação nas ilhas ocorre há muito tempo – disse Dimitra Kalogeropoulou, Diretora do Comitê Internacional de Resgate da Grécia.
Superlotação
As instalações de Moria abrigam cerca de 13 mil pessoas, mais de quatro vezes sua capacidade. Grupos de defesa dos direitos humanos criticam frequentemente o acampamento devido às más condições.
O campo foi colocado em quarentena na semana passada depois que as autoridades confirmaram que uma pessoa em busca de asilo havia sido infectada pelo novo coronavírus. Desde então, as o número de casos aumentou para 35.
Lesbos, que fica próximo à costa turca, estava na linha de frente de um movimento maciço de refugiados e migrantes para a Europa em 2015-2016. Devido à pandemia de coronavírus, desde 1º de março, todos os migrantes que chegaram à ilha foram colocados em quarentena longe dos campos.
Em Moria, grupos humanitários alertaram que o distanciamento social e medidas básicas de higiene são impossíveis de implementar devido às condições de vida.
A ilha grega também sofre com incêndios florestais provocados por ventos fortes em duas outras áreas da ilha.