Arnaldo Niskier
da Academia Brasileira de Letras
No mês de maio, os países lusófonos celebram o “mês da língua portuguesa”. Essa homenagem ao idioma e à cultura de origem portuguesa é um reconhecimento à relevância da língua e dos traços culturais partilhados por aqueles países que têm com Portugal uma relação histórica.
Reiteradas vezes temos dito, na Academia Brasileira de Letras, que a nossa obrigação primeira é cuidar com desvelo da língua portuguesa. E isso, naturalmente, parte da educação oferecida aos jovens estudantes.
Em todos esses anos fiz um extraordinário esforço para entender o fenômeno da educação, procurando trabalhar pelo seu constante aperfeiçoamento. Como professor e homem público, sempre busquei separar o que era ensino do que representava educação. Sem confundir as responsabilidades de cada um.
Como professor de História e Filosofia da Educação da UERJ, como autor de mais de 3 mil artigos e 100 livros sobre educação publicados e como autor de dezenas de conferências em diversos estados brasileiros, posso afiançar que conheço muito bem quais são os melhores caminhos que devem ser percorridos pela nossa educação, para que seja devidamente aperfeiçoada e bem disseminados os saberes e letras da Língua Portuguesa.
A literatura aproxima mundos e sonhos diferentes. A arte define e revela quem somos, que mitos cultivamos, em que ideais estéticos nos espelhamos, quais sentimentos conjugamos.
O Português é anterior a Portugal. Trata-se da quinta língua mais falada no mundo, a terceira mais falada no Ocidente e a mais falada no Hemisfério Sul. Partilhada por nove países, essa língua é um traço cultural e identitário que os unifica em torno de uma mesma matriz linguística. Se olharmos para a Península Ibérica, no século sexto, o espanhol e o galego, ambos derivados do latim, se ouviam por aquelas bandas. Nas palavras de Fernando Venancio, autor do livro “Assim Nasceu uma Língua – edição portuguesa da “Guerra & Paz” – “a história do português é, em larga medida, a história das suas tentativas de afastamento do galego”. O que é válido para o passado, será válido para o presente e para o futuro: como esperar que a fala do Brasil (ou de Angola, ou de Moçambique) continue fiel ao português de Portugal?
É preocupante a falta de conhecimento de diversos profissionais de diferentes áreas em relação à Língua Portuguesa. Alegam essas pessoas que a simples troca de um z por um s não muda o valor de uma petição advocatícia, a receita de um médico ou, ainda, o relatório de um administrador. Puro engano: um texto mal escrito abala a imagem do profissional que o escreveu e, sem dúvida, desqualifica o trabalho. Infelizmente, o descaso com o nosso idioma é notório, como podemos notar nos estudos frequentes da Academia Brasileira de Letras. Devemos ter cuidado com o que se fala e com o que se escreve, pois a nossa imagem está sempre sendo avaliada.