terça-feira, 02/12/25

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Macron nega querer ‘ministério da Verdade’ em confronto com extrema direita

Presidente francês reage a críticas da extrema direita e de veículos ligados a Vincent Bolloré

Presidente da França, Emmanuel Macron. Foto: AFP

 

O presidente da França, Emmanuel Macron, negou, nesta terça-feira (2), que pretende instaurar um “Ministério da Verdade” em suas iniciativas de combate à desinformação, frente à extrema direita e à imprensa conservadora que o acusa de uma autonomia “autoritária”.

A França vive uma batalha cultural cada vez mais acirrada: os meios de comunicação do magnata conservador Vincent Bolloré considera que a “liberdade de expressão” está ameaçada, em linha com a defesa deste discurso nos Estados Unidos por partidos do presidente americano, Donald Trump.

Seus apoiadores compartilham que não deveria haver limites à liberdade de expressão, mesmo quando as mensagens divulgadas podem ser vistas como desinformação ou considerações discriminatórias ou ofensivas.

Macron começou a reforçar esta ideia nas últimas semanas, exigindo uma regulamentação das redes sociais e de seus algoritmos que, em sua opinião, são “o Far West (Velho Oeste) e não o Free Speech (liberdade de expressão)”.

A próxima eleição presidencial, à qual o atual mandatário não poderá se candidatar, ocorrerá no primeiro semestre de 2027, e a extrema direita, seja com Marine Le Pen ou o jovem líder Jordan Bardella, liderou as pesquisas.

– “Ministério da Verdade” –

O presidente de centro-direita lançou um processo de reflexão no final de outubro sobre os riscos que, ele, as redes sociais representam para a democracia, e que deveriam se traduzir em “decisões concretas” no início de 2026.

Entre as opções está a implementação de uma “maioridade digital” aos 15 anos, a transparência dos algoritmos ou a criação de uma ação judicial para bloquear urgentemente as “notícias falsas” nas redes.

Macron conhece pessoalmente o impacto da desinformação. Desde sua eleição em 2017, circularam rumores online sobre a suposta transexualidade de sua esposa Brigitte. O casal apresentou queixas na França e nos Estados Unidos.

Este processo de reflexão se desenvolveu de forma mais discreta, até que o Journal du Dimanche (JDD), propriedade de Bolloré, acusou o presidente de uma deriva “totalitária” no último fim de semana.

No centro das críticas havia algumas de suas declarações nas quais mencionava um projeto de “certificação realizada por profissionais” para distinguir os sites e redes que produzem informações de acordo com normas éticas.

O JDD denunciou “a tentativa do ministério da Verdade”, como no romance distópico “1984” de George Orwell, mas o governo registou que esta iniciativa foi uma das partilhas dos Estados Gerais da Informação em 2024.

– “Narrativa única” –

Outros veículos de Bolloré, com o canal CNews e seu apresentador principal Pascal Praud, também se juntaram ao acusador o presidente francês de desejar “impor uma narrativa única”, em um contexto de conflito aberto entre este grupo e os meios de comunicação pública francesa.

Os líderes dos partidos de direita e extrema direita se uniram em seguida à ofensiva. “Atentar contra a liberdade de expressão é uma tentativa autoritária”, disse Bardella na CNews, acusando Macron de buscar manter o poder controlando a informação.

Diante das críticas, a Presidência publicou uma mensagem na rede social X lamentando que “falar em combater a desinformação gere desinformação”. “Eles nos acusam de totalitarismo distorcendo completamente o que o presidente disse”, afirmou um aliado do mandatário.

Macron já havia destacado dias antes que não cabe ao governo dizer o que é uma informação, mas sim às iniciativas de certificação como a Journalism Trust Initiative, lançada pela organização Repórteres Sem Fronteiras e reforçada pela Agence France-Presse (AFP).

“O governo não criará nenhum selo destinado à imprensa (…) muito menos um ministério da Verdade”, enfatizou o chefe de Estado nesta terça-feira no Conselho de Ministros para tentar encerrar a polêmica. “Não é, nem nunca será, seu papel fazer isso”, completou.

AFP

 

 

 

 

 

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