Mais que a habitual mandinga e os tradicionais banhos de sal grosso, de sempre nos terreiros da política na Bahia, os ventos que sopram forte nestes dias de maio (ora do sul e sudeste, ora do nordeste) na costa do Recôncavo, espalham um cheiro típico de pólvora estocada. Os entendidos dos segredos e feitiços da terra de todos os santos e de quase todos os pecados – segundo o cronista, jornalista e escritor Nelson Gallo – , garantem: isso é normal, mesmo que tire o sono de muita gente.
Tanto quanto as pesquisas de opinião com credibilidade, a exemplo da Datafolha, publicada na sexta-feira, 9/5, em que escrevo este artigo semanal. Ainda mais, em períodos de grandes disputas eleitorais (sucessão estadual e presidencial conjugada) ou embates grandiosos no futebol.
Do tipo do BA x VI pelo brasileirão deste domingo (11), que promete mexer com os nervos das duas gigantes torcidas e fazer tremer os alicerces da Fonte Nova; ou a Copa do Mundo que começará no mês que vem em gramados baianos e brasileiros, mas já mexe com as estruturas das grandes cidades e com o coração do poder no Planalto Central.
No caso da política, o odor de pólvora começou a ficar mais forte por estas bandas nordestinas – cultivadas como nunca pelo poder central, pelos partidos e todos os candidatos, semana passada, – a partir das explosivas visitas a Salvador e Feira de Santana da presidente Dilma Rousseff (em mal disfarçada campanha de palanque da petista pela reeleição, com tinturas de “agenda administrativa”) e, no mesmo período, da candidata a vice do PSB, Marina Silva. Esta, disparando flechas envenenadas sobre a atual ocupante do Palácio do Planalto, mas, principalmente, na direção do mais destacado alvo: o importante mentor do PT e de Dilma, ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, apontado pela ex-senadora e ex-ministra como “a bala de prata do PT”. Uma metáfora mais evidente e atual ainda, depois da Pesquisa Datafolha desta semana, que aponta para segundo turno no pleito de 05 de outubro deste ano, principalmente em razão da subida de Aécio Neves (PSDB) na preferência do eleitorado – do socialista Eduardo Campos também – e da queda de Dilma.
Para os entendidos (eles mais uma vez) de política, terreiros e Bahia, tudo isso é “fichinha”, diante do que se prenuncia para esta segunda-feira (12). Na data está sendo anunciada a presença na capital baiana, ao mesmo tempo, de Lula, que vem participar de festa de lançamento da chapa governista (Rui Costa, João Leão(vice) e Otto Alencar (senador) à sucessão de Jaques Wgner, na terra onde ele foi campeão imbatível de votos nas últimas eleições nacionais que disputou.
E do senador Aécio Neves, candidato do PSDB à presidência, em estado de graça por sua esplendorosa fase de ascensão nas pesquisas eleitorais, que vai receber o título de Cidadão Soteropolitano na histórica Câmara de Vereadores da capial baiana. Festa de tucanos, empresários de diferentes colorações, e forças partidárias aliadas. A maior delas, no estado, o Democrata, sob o comando do prefeito de Salvador, ACM Neto.
ACM Neto, que estenderá o tapete e fará as honras da casa na visita do mineiro, é, atualmente, a mais disputada figura estelar de palanque na Bahia. Gente que conhece a fundo o caminho das pedras na política estadual e nacional, não tem mais dúvidas: é a mão do jovem neto de Antonio Carlos Magalhães que ajuda no o , decisivamente, a erguer (e sustentar no alto) o candidato tucano à presidência da República no maior colégio eleitoral do Nordeste e terceiro mais importante do País.
Isso começou a ficar patente desde que Neto apareceu no programa gratuito de TV do Democratas, fazendo vibrante discurso de palanqueiro (à moda Lula em antigas passagens pela Bahia). O prefeito de Salvador surgiu então cercado do candidato a governador pelo DEM, Paulo Souto, e do ex-ministro Geddel Vieira Lima (PMDB), escolhido para disputar a vaga baiana de senador na chapa de oposição. Ao lado, feliz como pinto no lixo com as palavras do vibrante orador, o senador tucano Aécio Neves, candidato ao posto de Dilma nas eleições deste ano. Um estouro em Salvador e outras áreas eleitorais de maior densidade eleitoral e ressonância política no estado.
O impacto da bomba nos arraiais do PT e partidos aliados dos governos Dilma e Wagner seria mais amplo ainda com as pesquisas divulgadas depois do programa com ACM Neto em redes de rádio e televisão.
Mas não ficaria nisso.
Esta semana, nota com o título “Transferência e Tanta”, publicada no Raio Laser, a bem informada e apimentada coluna política do jornal Tribuna da Bahia, revela:
“Dados de uma pesquisa em poder do DEM têm feito a alegria da chapa encabeçada pelo candidato a governador Paulo Souto. Eles apontam que nas próximas eleições, em Salvador, o prefeito ACM Neto terá mais capacidade de transferência de votos que o ex-presidente Lula (PT), que já foi considerado um cabo eleitoral imbatível na capital baiana”, diz um trecho da nota.
A sondagem não pesquisou se a tendência se repete no interior. Mas o alvoroço que o prefeito tem causado em suas esticadas eventuais fora da capital tem sido tão grande, “com tanta gente cercando o democrata, que seus correligionários acham que não será necessário medir sua performance com relação ao item em pesquisas de intenção de votos”, conclui a TB.
O reboliço com a divulgação da mais recente pesquisa Datafolha, que já era grande, ficou ainda maior. Até o candidato do PSB, Eduardo Campos, comunicou às pressas aos seus aliados, no fim de semana, que hoje também estará na Bahia.. A conferir.