Presidente diz que “a humanidade perde uma voz de acolhimento ao próximo” com a morte do papa. Ele vai a Roma para o velório

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte do papa Francisco e decretou luto oficial de sete dias no país. Ele também confirmou a participação no funeral do pontífice, que ocorrerá em Roma, até o fim desta semana. A primeira-dama Janja da Silva o acompanhará. A informação foi divulgada pela Secretaria de Comunicação Social (Secom).
Segundo o Planalto, a comitiva completa deve ser anunciada hoje, mas a data do embarque depende da definição do cronograma pela Santa Sé — o que ainda não ocorreu. A previsão é de que os ritos comecem amanhã e que o sepultamento ocorra entre sexta-feira e domingo. O pontífice morreu aos 88 anos por conta de um acidente vascular cerebral (AVC), segundo o Vaticano.
Católico, Lula formou uma relação de amizade com o sacerdote mesmo antes de voltar ao Palácio do Planalto. Ambos se conheceram há cerca de duas décadas, quando Francisco ainda era cardeal em Buenos Aires e usava seu nome de batismo: Jorge Bergoglio. Mantiveram contato desde então, inclusive quando o petista esteve preso na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba.
“A humanidade perde hoje (nesta segunda-feira) uma voz de respeito e acolhimento ao próximo. O papa Francisco viveu e propagou em seu dia a dia o amor, a tolerância e a solidariedade que são a base dos ensinamentos cristãos. Assim como ensinado na oração de São Francisco de Assis, o argentino Jorge Bergoglio buscou de forma incansável levar o amor onde existia o ódio. A união, onde havia a discórdia. E a compreensão de que somos todos iguais, vivendo em uma mesma casa, o nosso planeta, que precisa urgentemente dos nossos cuidados”, declarou Lula em nota de pesar, publicada durante a manhã.
Ele destacou a simplicidade, a coragem, a empatia do pontífice e a atuação dele no combate às mudanças climáticas, na crítica à desigualdade entre pessoas e no apoio às populações mais vulneráveis, incluindo os mais pobres, refugiados, jovens, idosos e vítimas de guerra e do preconceito.
“Em sua memória e em homenagem à sua obra, decreto luto de sete dias no Brasil. O Santo Padre se vai, mas suas mensagens seguirão gravadas em nossos corações”, disse. A decisão foi publicada pouco depois em edição extra do Diário Oficial da União (DOU). As bandeiras do Palácio do Planalto foram colocadas a meio mastro.
À noite, Lula divulgou um novo pronunciamento, em vídeo, sobre o líder católico. Para o petista, a paixão do papa pelo futebol o tornou “o mais brasileiro dos argentinos”. “Francisco foi o papa da esperança em sua despedida. Renovou a crença nos seres humanos e previu um futuro melhor para a humanidade. Disse que o amor venceu o ódio, que a verdade venceu a mentira, que o perdão venceu a vingança. Esse é o mundo que haveremos de construir inspirados no papa Francisco. Se formos capazes de cultivar a paz, o amor, a justiça e a fraternidade”, comentou.
É praxe que líderes mundiais participem da solenidade de despedida de pontífices. Em 2005, durante seu primeiro mandato, Lula esteve no funeral do papa João Paulo II, acompanhado dos ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney, que foram convidados pelo Executivo. Também foram chamados pelo Planalto os presidentes do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF). A expectativa é de que o convite aos chefes dos Poderes se repita.
O presidente e o papa se aproximaram quando Lula foi preso por corrupção no âmbito da Operação Lava-Jato, em abril de 2018. O pontífice enviou um rosário e cartas de apoio ao então ex-presidente. Em maio de 2019, em resposta a uma carta escrita a mão por Lula, o líder católico lamentou a morte de parentes do ex-presidente e pediu para o petista “não desanimar e continuar confiando em Deus”. Francisco também já defendeu Lula e Dilma Rousseff publicamente, argumentando que os dois foram alvos de perseguições injustas. Em fevereiro de 2020, meses após sua soltura, Lula foi recebido pelo papa no Vaticano para uma reunião particular, mediada pelo então presidente da Argentina, Alberto Fernández. O último encontro dos dois foi em junho de 2023.
Janja também manifestou seu pesar e a importância de Francisco como líder religioso. “Um papa latino que, com sua simplicidade e com seu verdadeiro amor ao próximo, sempre esteve ao lado dos mais pobres, vulneráveis e marginalizados. E que, em sua última aparição pública, tão simbólica no domingo de Páscoa, dirigiu sua palavra ao povo de Gaza, ressaltando a situação humanitária dramática vivida pelos palestinos”, escreveu a primeira-dama em suas redes sociais.
Ministros lamentam
O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin, publicou uma foto em suas redes na qual homenageia o sacerdote.
“Primeiro pontífice latino-americano, primeiro jesuíta a se tornar papa e primeiro papa a se chamar Francisco, evocando o que de mais precioso existe na cristandade — a humildade, a compaixão e a fraternidade —, fez história ao inaugurar um novo tempo para a Igreja e ao apontar a perseverança pela igualdade, por meio da convivência harmoniosa do diálogo, como o caminho para a humanidade”, destacou Alckmin.
A ministra da Secretaria de Relações Institucionais (SRI), Gleisi Hoffmann, comentou que o pontífice liderou a Igreja com coragem, humildade e amor pelos que mais sofrem. “Sua fé caminhava junto com a justiça, resgatando a esperança ao redor do mundo. Seus ensinamentos e posições permanecerão entre nós. Siga em paz Francisco”, comentou.
O ministro da Casa Civil, Rui Costa, disse ter tido a honra de conhecer o religioso e que “todo o mundo chora a morte do papa Francisco”.
Para o titular da Fazenda, Fernando Haddad, o papa foi um valoroso exemplo de vida e contribuiu para uma sociedade “mais tolerante, justa, fraterna e solidária”.
A ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, pontuou que o pontífice foi firme na defesa da paz e sempre demonstrou respeito pelos indígenas.
Por sua vez, o advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, disse ter acordado com o coração pesado ao receber a notícia da morte do papa Francisco. “Entretanto, nossa consolação reside na certeza de que Deus cumprirá Sua promessa a todos os Seus filhos. Em tempos de dor, encontramos abrigo nas palavras do Pai, relembrando a esperança e o amor que nos conectam”, afirmou.
Com informações do CB*