Se errou, peça desculpas. Se mantém o que disse, aguente o rojão
Fábio Vieira/Reprodução
As consequências sempre vem depois, assim como só mais tarde se saberá ao certo se Lula disse o que disse de modo pensado ou se não pensou antes e arrependeu-se em seguida.
Com a experiência de quem já disputou cinco eleições presidenciais e ganhou duas, elegeu e reelegeu seu sucessor, fica difícil acreditar que ele perdeu o controle sobre a própria língua.
Mas tudo é possível. Ninguém está livre de errar. E na opinião de líderes do PT e de devotos dele em outros partidos, Lula errou em três falas que deverão marcar sua campanha para sempre.
Ele resolveu enfrentar seu principal adversário no campo onde o adversário é insuperável. É Bolsonaro quem entende de ameaças à vida alheia; é ele que estimula abertamente a violência.
Lula sempre foi o contrário de Bolsonaro, mas deu margem para que digam que ficou parecido ao sugerir à Central Única dos Trabalhadores que ponha fim à tranquilidade de alguns políticos.
Como se faria isso? Dispondo militantes defronte da residência de políticos que se recusam a ouvir a voz dos trabalhadores para convencê-los, e aos seus familiares, que devem ouvir.
Segundo Lula, não adianta promover manifestações no gramado do prédio do Congresso, em Brasília. Os políticos reunidos lá dentro simplesmente não escutam nada, e não se incomodam.
E se fosse Bolsonaro a dizer algo semelhante? A sugerir aos seus seguidores que cerquem as casas onde moram políticos de esquerda para protestar ou intimidá-los?
É sobre intimidação. O previsível é que políticos que se sintam ameaçados reajam de armas na mão em defesa de suas famílias. Bolsonaro deve estar lamentando não ter tido essa ideia antes.
Lula chamou a elite brasileira de “escravista”. É, de fato, o que ela é. Criticou a classe média por “ostentar um padrão de vida desnecessário”. Para quem precisa de votos, arriscou-se demais.
De acordo com os padrões brasileiros, Lula já foi um homem de classe média, hoje é rico. Aprecia vinhos caros, embora não gaste com eles. Só viaja em jatinhos, embora pagos pelos outros.
Vez por outra, tem o bom gosto de ostentar no pulso um relógio Piaget de R$ 80 mil que ganhou quando era presidente. A classe média, ressentida por natureza, observa em silêncio.
Para completar a obra quase perfeita dos seus últimos movimentos, Lula defendeu o direito ao aborto. Também defendo. Mas não sou candidato, não corro atrás do voto dos evangélicos.
Lula deu munição de graça a Bolsonaro que saberá aproveitá-la, como se verá logo.
Ricardo Nobalt/Metrópoles