Parlamentar reforça que conversa mantida por WhatsApp com Rafael Alves, da Davati, e ocorreu em 2020 para compra de luvas
Rafaela Felicciano/Metrópoles
O deputado Luis Miranda (DEM-DF)mostrou, no fim da tarde desta quinta-feira (1º/7), o contexto do áudio apresentado na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19 por Luiz Paulo Dominguetti Pereira, o qual afirma ser representante da Davati Medical Supply. O policial militar de Minas Gerais acusou o parlamentar de tentar negociar vacinas com a empresa, fato já descartado pelos senadores.
Segundo o congressista, a gravação transmitida para os integrantes da CPI foi “propositalmente retirada de circunstância” para tentar, segundo ele, descredenciá-lo sobre as denúncias apresentadas de possíveis irregularidades na compra da Covaxin pelo Ministério da Saúde.
A conversa teria ocorrido, conforme sustentou, com Rafael Alves, que trabalharia com o representante da Davati, Cristiano Alberto Carvalho. De acordo com a ata notarial registrada em cartório, as trocas de mensagem teriam ocorrido em setembro do ano passado.
Contudo, segundo ele, o foco da troca de mensagens teria como objetivo a compra de luvas, as quais seriam exportadas aos Estados Unidos. O congressista disse ainda manter negócios naquele país, onde morou e chegou a fazer a campanha eleitoral de 2018, quando foi eleito deputado federal.
Mais cedo, Miranda foi a um cartório registrar uma ata notarial para tentar comprovar que a troca de mensagens, conforme apresentou aos escreventes e tabeliã, seria no ano passado.
Ouça agora o diálogo:
“Gabinete do ódio”
Miranda também afirmou que a tentativa de envolvê-lo na denúncia de propina na compra da AstraZeneca seria “obra do gabinete do ódio”.
“É só observar os parlamentares que estão postando o áudio descontextualizado: são todos os que são acusados de fazerem parte do gabinete do ódio, não é verdade? Então, está partindo do gabinete do ódio, porque não tem como admitir o que eu apresentei. Eles querem desacreditar a testemunha. Em vez de combater a corrupção, eles querem combater o deputado que denuncia as corrupções”, disse
De acordo com Miranda, a base governista demonstra que o Palácio do Planalto não estaria interessado em investigar as denúncias já apresentadas e, por isso, aliados bolsonaristas estariam dispostos a descredenciar o parlamentar.
“Quem são os envolvidos? Nós temos de investigar e botar na cadeia. Eles querem tapar o sol com a peneira, jogar debaixo do tapete, e estão dispostos a massacrar uma testemunha honesta, uma pessoa correta, porque se eu tivesse alguma coisa de errado na minha vida esses caras tinham destruído desde sexta-feira passada, com certeza. Não estão encontrando nada, agora decidem criar factoides. Eu não vou desistir, eu vou acabar com a corrupção no Ministério da Saúde, e tenho certeza que muitos brasileiros ainda entenderão que a minha missão sempre foi fazer o correto”, disse.
Mais cedo, após desmentir para a imprensa as acusações feitas por Dominguetti, Miranda decidiu ir a um cartório, em Brasília, para criar uma ata notarial sobre as trocas de mensagens que, segundo ele, teriam ocorrido “em outubro de 2020” e se tratavam de aquisição de luvas a serem comercializadas para cliente nos Estados Unidos.
Ao Metrópoles Miranda disse que o registro cartorial será o primeiro passo para fundamentar um pedido de prisão contra o representante comercial na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19. O depoente desta quinta-feira (1º/7) também é policial militar.
“Eu estou no cartório agora, da Asa Norte, fazendo uma ata notarial dessas conversas, para comprovar que a relação é lá de setembro, de setembro e outubro de 2020. Tratava-se de uma aquisição de luvas para o mercado interno americano”, assegurou o parlamentar.
De acordo com o deputado, toda a conversa será transcrita, uma vez que ele manteve as mensagens arquivadas até hoje. “Eu nunca deleto, porque não tenho rabo preso, diferente deles, né? Eu tenho como comprovar tudinho aqui agora. Vou fazer a ata notarial e já retorno para pedir a prisão do cara para a CPI”, disse.
Compra de luvas
Mais cedo, Luis Miranda já havia afirmado que era “mentira” a acusação feita pelo empresário Dominguetti, representante da empresa Davati, de que o parlamentar teria feito contato com o procurador da empresa, Cristiano Alberto Carvalho, para negociar compra de vacinas AstraZeneca.
A declaração ocorreu durante o depoimento do empresário para a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid-19.
“Mentira. Nunca na vida falei com essas pessoas sobre vacina”, afirmou ao Metrópoles o parlamentar.
Questionado se conhece algum Cristiano, Miranda respondeu que, “nos Estados Unidos, um cara com esse nome ofereceu luvas para um cliente nos USA [Estados Unidos] através da minha empresa”, pontuou. Segundo o parlamentar, trata-se de uma gravação antiga.
Miranda chegou a entrar na sala da CPI, mas acabou deixando o local, após ser hostilizado por integrantes da base governista no Senado Federal.
Investidas
Para os senadores, Dominguetti destacou que, após protocolar proposta de venda no Ministério da Saúde, diversos assessores e parlamentares passaram a procurar a empresa para se oferecerem como intermediadores das negociações.
“Tenho informação de que um parlamentar tentou negociar busca por vacinas dentro da Davati. Isso eu tenho. A informação que tenho é de um: o que aqui que fez acusação contra o presidente da República”, declarou, referindo-se a Miranda.
Ao ser questionado se seria, de fato, o deputado Luis Miranda, Dominguetti confirmou. “Sim, senhor, excelência. [Luis Miranda] Procurou a Davati, [e] o Cristiano [Alberto Carvalho, procurador da empresa], tentando negociar a compra de vacinas”, respondeu.
Segundo Dominguetti, Cristiano Carvalho relatou para ele que, “volta e meia, parlamentares o procuravam e quem o mais incomodava era o deputado Luis Miranda, que era mais insistente”.
“Cristiano me enviou um áudio pedindo uma live, que tinha um cliente dele mais recorrente que comprava pouco e em menor quantidade, mas que poderia colocar a vacina para rodar”, disse o depoente, que, em seguida, disponibilizou o áudio.
Dominguetti afirmou à jornalista Constança Rezende, do jornal Folha de S.Paulo que o então diretor de Logística do Ministério da Saúde, Roberto Ferreira Dias, durante um jantar no restaurante Vasto, no Brasília Shopping, região central da capital federal, teria pedido a propina de US$ 1 por dose de vacina, no dia 25 de fevereiro. Dias foi exonerado na quarta-feira (30/6).
Fonte: Metrópoles