A aproximação da campanha de Celso Russomanno (Republicanos) com um marqueteiro que tem contrato com o PSL acirrou conflitos internos no antigo partido do presidente Jair Bolsonaro.
Russomanno, deputado federal e apresentador de TV, é adversário da também deputada Joice Hasselmann (PSL) na disputa à Prefeitura de São Paulo, e sua campanha fez tratativas nos últimos meses com o especialista em marketing digital Rodrigo Gadelha.
Em diversas ocasiões, inclusive a repórteres, Gadelha foi apresentado como um dos responsáveis pela campanha do candidato, junto ao publicitário Elsinho Mouco. Ao mesmo tempo, ele é contratado pelo PSL Mulher, comandado pela senadora Soraya Thronicke (MS).
Integrantes da campanha de Russomanno dizem que, para evitar questionamentos de integrantes do PSL, Gadelha se afastou das atividades diárias referentes à disputa, mas não deixou de prestar serviço ao candidato.
Até a última semana, afirmam, Gadelha continuava atuando nos bastidores como consultor na campanha digital do candidato, com a elaboração de estratégias, táticas e ferramentas.
A aproximação não é recente. No primeiro semestre, o marqueteiro fez live no Instagram com o deputado sobre direitos do consumidor, tema com o qual Russomanno se notabilizou. Mas, consultado pela reportagem, Gadelha nega participar da campanha de Russomanno.
Gadelha afirma que atualmente não tem nenhum envolvimento e que, no passado, apenas negociou entrar na campanha. Apesar disso, nunca fechou contrato. Ele diz até ter entrado em contato com o presidente do Republicanos, deputado Marcos Pereira (SP), para dizer que não trabalharia para o candidato.
Questionada oficialmente se Gadelha presta ou prestou serviços ao candidato e qual seria a sua atuação, a campanha de Russomanno não se manifestou.
A proximidade de Gadelha com o candidato do Republicanos irritou Joice. “Essa é uma das coisas mais esdrúxulas que eu já vi na vida”, disse à reportagem.
Segundo ela, “é de envergonhar qualquer dirigente partidário” que aceite um profissional que sirva ao candidato de outro partido.
“Eu, como presidente do PSL municipal, jamais faria uma coisa dessas. Acho muito cabeludo e indefensável que qualquer dirigente partidário defenda ou apoie uma coisa dessas. São aquelas inconsistências que a gente não sabe como resolver. À minha campanha, por óbvio, esse senhor não terá nenhum acesso”, diz Joice.
Outras pessoas ligadas à cúpula do PSL paulista também têm se queixado da aproximação que ocorreu nas últimas semanas entre o marqueteiro e Russomanno e dizem que elas motivaram discussões acirradas dentro do partido.
Pesam negativamente dois fatores: o de Russomano estar bem colocado nas pesquisas (tinha 20% no último Datafolha), enquanto Joice está entre os candidatos do pelotão inferior (com 3% das intenções de votos, na mesma pesquisa).
Além disso, o PSL Mulher foi um dos flancos do partido que Joice tentou comandar e acabou derrotada por Soraya Thronicke.
Gadelha diz estar “zero envolvido” com a campanha de Russomanno. “Eu falei para [a Soraya] o seguinte: estou abrindo mão da campanha do Celso. E abri mesmo. Tinha um contrato para ser assinado, eu não fui, cancelei tudo. Tem duas semanas que não vou lá, nem falo com eles.”
Segundo o marqueteiro, a campanha tem pedido para que ele volte e negocie com eles. “Eu disse que não vou. Não tenho contrato, não estou envolvido e, inclusive, se você olhar as redes dele, não tem nenhum trabalho profissional.”
Apesar disso, afirma que não vê abertura para questionamentos no trabalho para as duas legendas. “Uma coisa é atendimento institucional, outra coisa é eleição”. “Institucional é só a [publicidade da] marca, não tem nada a ver com a eleição.”
Soraya Thronicke também afirma que não vê impedimento ou constrangimento caso Gadelha trabalhasse na campanha de Russomanno. “Ele foi contratado pelo PSL Mulher, mas não é para as eleições, mas para o período corrente normal, de trabalho.”
“Nós somos de um mercado liberal e a deputada Joice nunca pediu a ele um orçamento sequer. Não existe contrato de exclusividade. É como um advogado, é um trabalho que você faz. E ele em nenhum momento falou mal da deputada Joice.”
A senadora afirma que, apesar disso, Gadelha havia informado a ela que preferiu sair da campanha de Russomanno “porque é uma briga desnecessária, uma coisa inócua”.
Entre outras campanhas, Gadelha trabalhou para a de Aécio Neves (PSDB) à Presidência em 2014, que chegou ao segundo turno, mas acabou derrotado pela petista Dilma Rousseff.
Elsinho Mouco, que chefia a publicidade de Russomanno, era o marqueteiro do ex-presidente Michel Temer (MDB). Como estratégia de campanha, o publicitário tem aliado o candidato ao presidente Jair Bolsonaro.
PSL e Republicanos disputam o espólio eleitoral que elegeu Jair Bolsonaro em 2018. Ainda há setores na legenda que abrigou o presidente durante as eleições que desejam a volta de Bolsonaro aos seus quadros.
Já o Republicanos, partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus, filiou o senador Flávio Bolsonaro (RJ) e o vereador do Rio Carlos Bolsonaro, filhos do presidente.