Maria José Rocha Lima
Pai, pensando em você, que há três anos nos deixou, lembrei – me da infância no Bairro do Bonfim. Veio à minha memória um dos dias mais felizes da minha vida: aquele dia em que você foi nos visitar e, não nos encontrando, deixou na casa da vizinha um presente. Era uma malinha escolar de couro, vermelha, toda pespontada de branco. Dentro, era forrada de um papel cuja padronagem, de tão linda, era um novo presente.
A mala tinha um cheiro delicioso de coisa nova, como a sensação nova de possuir aquela malinha linda. E na minha afobação de abri-la, conhecê-la, possuí-la, eu não havia notado o que a minha malinha guardava. Aí veio a segunda grande emoção de descobrir dentro dela, como nos tesouros encantados, uma bela caixa de lápis de cores, uma régua, compasso, esquadro, caderno de desenho, borracha, lapiseira (como chamávamos apontador) e lápis grafite.
A caixa de lápis de cores era linda, de flandres, com pinturas silvestres: folhagem com passarinhos e araras coloridas, todos belíssimos. Os lápis eram de excelente qualidade, tinham cheiro de madeira de lei, misturado a um cheiro bom de tinta, que até dava pena usá-los.
Eu percorri a avenida de casas ainda tentando alcançá-lo para lhe agradecer. Mas o senhor sempre andando apressado…Tantos anos depois, posso alcançá-lo fácil, na minha memória, certa de que tudo que sou foi, em parte, construído com as ferramentas contidas naquela malinha mágica que você me ofereceu.
Obrigada pai!
Da sua filha Maria.