Em dezembro do ano passado, logo após a prisão do ex-governador Ricardo Coutinho, matérias começaram a surgir na imprensa baseadas em vazamentos de áudios que estavam sob a responsabilidade da Operação Calvário.
Numa delas (veja print abaixo), publicada no blog do repórter Fausto Macedo, do Estadão, afirma-se que Ricardo Coutinho havia sido “interceptado” um ano antes “ajustando valores de propinas com Daniel Gomes” – Daniel Gomes era executivo da Cruz Vermelha. Depois de preso na Operação Calvário, ele virou delator.
A matéria do Estadão começa com um erro: não houve interceptação, mas uma gravação realizada pelo empresário, não se sabe ainda a mando de quem, de conversas que ele teve com Ricardo sobre os hospitais administrados pela Cruz Vermelha.
A conversa objeto da “denúncia” é uma delas e ocorreu no final de 2017 e, como se pode lê no título da matéria, Ricardo Coutinho teria acertado até 13° de propina. Notórios inimigos que Ricardo Coutinho acumulou na imprensa paraibana não deixaram de aproveitar a oportunidade.
Matéria publicada na revista Carta Capital desse fim de semana (clique aqui para ler), entretanto, mostra que as conclusões de Fausto Macedo estavam completamente equivocadas.
Segundo transcrição dos diálogos realizados por uma perícia técnica independente, feita a pedido da defesa do ex-governador da Paraíba, o trecho no qual Ricardo Coutinho afirmou “meu 13º já está certo”, na realidade, segundo a revista, trata-se na verdade de “uma menção à garantia de pagamento aos servidores públicos estaduais”.
Com os recursos assegurados para pagar o décimo-terceiro dos servidores estaduais, Ricardo demonstrava segurança para avançar na conclusão do Hospital Metropolitano de Santa Rita sem afetar as finanças do estado. Ou seja, um manifestação que denotaria responsabilidade com a estabilidade financeira da Paraiba foi transformada em “suposto” ato de desonestidade.
O que é confirmado na sequência do diálogo.
Daniel Gomes: “(É melhor) a gente não deixar para novembro e dezembro, que é sempre difícil, né?”
Ricardo Coutinho -“Não, ao contrário, é melhor que no início, porque o dinheiro tem mais, porque, por exemplo, o 13º eu guardo antes”.
Daniel Gomes: “O senhor paga no meio do ano, já tá pagando o 13º…”
Ricardo Coutinho: “Meio do ano, é. O meu 13º já tá certo porque eu já fiz”.
Há algum indício de que esse diálogo possa indicar alguma negociação de propina? Se sua resposta for não, você deve estar se perguntando como seria possível interpretar de outra maneira esse diálogo, a não ser constatando que se trata de uma discussão sobre a origem dos recursos que permitiriam concluir um dos maiores hospitais do país?
Eu respondo: há, sim. A interpretação dada pela Operação Calvário, vazando trechos fora do contexto em que os diálogos realmente aconteceram.
Resta saber se jornalistas experimentados como Fausto Macedo foram induzidos a acreditar que o teor de diálogos vazados eram mesmo fruto de uma negociata, ou se, ele também, está metido nessa manipulação, cujo objetivo sempre foi destruir a reputação de honestidade de um dos políticos mais respeitados do Brasil.