Cidade está sob o cerca do exército de Israel. A ONU alerta para o risco de morte de crianças por fome na Faixa de Gaza.

A Cidade de Gaza está sob cerco total das forças israelenses, que lançaram uma ofensiva de larga escala nesta quinta-feira (21/8) para tomar o último grande bastião do Hamas no território palestino. A ONU alerta para o risco de morte de crianças por fome na Faixa de Gaza.
O plano foi aprovado nessa quarta-feira (20/8) pelo ministro israelense da Defesa, Israel Katz, e ainda aguarda o aval final do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, previsto para esta quinta-feira.
Segundo o exército israelense, cinco divisões, compostas por dezenas de milhares de soldados, participam da operação contra a Cidade de Gaza, com bombardeios intensos nos bairros de Jabalia al-Balad, al-Nazla e al-Sabra.
O porta-voz do exército, general Effie Defrin, declarou que as forças israelenses estão nas periferias da cidade e que a operação visa criar condições para a libertação dos reféns ainda mantidos em Gaza. Segundo o exército, 49 reféns permanecem em cativeiro, dos quais 27 já foram declarados mortos. Desde o início da guerra, Israel afirma ter eliminado cerca de 2.000 combatentes do Hamas e atingido 10 mil alvos.
A mobilização de 60 mil reservistas por Israel foi anunciada na quarta-feira e é considerada uma questão explosiva para Netanyahu”. A decisão “divide a sociedade israelense”, diz o jornal Le Parisien.
Proposta do Hamas aguarda retorno
Apesar da escalada militar, Israel ainda não respondeu formalmente à proposta de trégua apresentada por mediadores do Egito, Catar e Estados Unidos, aceita pelo Hamas na segunda-feira (18/8). A proposta prevê uma trégua de 60 dias, troca de reféns por prisioneiros palestinos e aumento da ajuda humanitária. O Hamas criticou a ofensiva como um “desrespeito flagrante” aos esforços diplomáticos.
A ofensiva ocorre em meio a fortes divisões internas em Israel. Segundo o Times of Israel, 40% dos reservistas não estão respondendo às convocações. Um estudo da Universidade Hebraica de Jerusalém revelou que 47% dos reservistas ativos expressam sentimentos negativos em relação ao governo Netanyahu e sua condução do conflito.
Além disso, nessa quarta, Israel anunciou um novo plano de colonização na Cisjordânia, com a construção de 3.400 residências que dividirão o território palestino. O ministro das Finanças Bezalel Smotrich celebrou o projeto como o fim da ideia de um Estado palestino.
Moradores de Gaza relatam uma situação desesperadora. “A casa treme, vivemos com o som de explosões, aviões de guerra e ambulâncias. O barulho se aproxima, mas para onde ir?”, disse Ahmad al-Shanti. Amal Abdel al-Al, que fugiu de al-Sabra, afirmou: “Ninguém dorme em Gaza há uma semana. O céu se ilumina com os bombardeios.”
Desde o ataque do Hamas em 7 de outubro de 2023, que matou 1.219 pessoas em Israel, a resposta militar israelense já causou 62.192 mortes em Gaza, segundo o Ministério da Saúde do Hamas — números considerados confiáveis pela ONU. A Cruz Vermelha Internacional classificou a intensificação dos combates em Gaza como “intolerável”, alertando para mais mortes, deslocamentos e destruição em um território já devastado.
Comida como arma de guerra
Também nesta quinta, o chefe da agência da ONU para refugiados palestinos (UNRWA), Philippe Lazzarini, alertou que crianças em Gaza correm risco iminente de morte por desnutrição. Dados da agência mostram um aumento de seis vezes nos casos desde março. “Muitos não sobreviverão”, afirmou Lazzarini, classificando a situação como uma “fome fabricada e deliberada”, onde a comida é usada como arma de guerra.
A crise alimentar se agrava com o cerco militar e o bloqueio ao acesso de ajuda humanitária. Em maio, um monitor global de fome indicou que meio milhão de pessoas em Gaza enfrentavam risco de inanição.