A contagem é do Instituto Internacional de Imprensa e da ONG Repórteres Sem Fronteiras
BELO HORIZONTE, MG (FOLHAPRESS) – A morte na Cisjordânia da palestino-americana Shireen Abu Akleh, 51, nesta quarta-feira (11), se somou a outros 28 óbitos registrados de jornalistas no exercício da profissão neste ano no mundo.
A contagem é do Instituto Internacional de Imprensa, organização para defesa da liberdade de expressão sediada em Viena, e da ONG Repórteres Sem Fronteiras. Em todo o ano passado, os grupos contabilizaram 45 repórteres mortos cobrindo guerras e manifestações ou em trabalhos investigativos.
O IPI destaca um aumento em ataques violentos contra a imprensa no mundo neste ano.
Veterana na profissão, Akleh trabalhava para o canal de notícias do Qatar Al Jazeera. Em uma cobertura em Jenin, cidade ao norte da Cisjordânia, vestida com um colete que a identificava como jornalista, ela foi alvo de um ataque e morreu com um tiro na cabeça. O produtor Ali Al Samudi ficou ferido no mesmo incidente e está internado.
A emissora afirma que ela foi assassinada “deliberadamente e a sangue frio” pelas forças de Israel. O governo de Naftali Bennett inicialmente acusou palestinos, mas nesta quinta (12) uma autoridade, falando sob anonimato, ponderou ao jornal The Washington Post que uma linha de investigação aponta para a possibilidade de o tiro ter partido de um soldado israelense.
Também nesta quinta, mas no Chile, uma repórter comunitária morreu no hospital após 12 dias internada –ela foi baleada na cabeça durante protestos no 1º de Maio em Santiago. A polícia deteve membros de um grupo criminoso que controla o comércio ambulante na região e os considera suspeitos.
A esses casos se somam os de duas jornalistas mexicanas encontrados mortos no estado de Veracruz nesta semana. O país, aliás, tem sido um dos mais inseguros para a imprensa. Segundo a contagem do IPI, só em 2022 são nove mortes de jornalistas no exercício da profissão ali –depois do México, vêm a Ucrânia, em guerra após a invasão pela Rússia, com sete casos, Haiti (3), Filipinas (2) e, com um caso cada um, Guatemala, Chade, Iêmen, Turquia, Cazaquistão, Bangladesh e Mianmar.
No caso mexicano mais recente, Yesenia Mollinedo Falconi e Sheila Johana García Olivera foram mortas a tiros por agressores, ainda não identificados, enquanto estavam sentadas em um carro do lado de fora de uma loja de conveniência no município de Cosoleacaque, a 580 km da Cidade do México.
As duas trabalhavam para o portal El Veraz –Mollinedo era a diretora da publicação e Sheila, repórter. O veículo tem uma página no Facebook na qual compartilha informações sobre o governo local.
O clima de insegurança que ronda a imprensa no México é antigo e vem aumentando desde 2018, quando o atual presidente, Andrés Manuel López Obrador, assumiu. Segundo o levantamento do IPI, ao menos 35 jornalistas foram mortos nos últimos quatro anos no país -e apenas 10% desses assassinatos foram resolvidos judicialmente.
AMLO, como é conhecido, é crítico contumaz do jornalismo profissional.
Além de liderar a estatística, o país tem uma dinâmica de assassinatos de jornalistas que difere da do contexto da Guerra da Ucrânia, onde os óbitos são causados em sua maioria por explosões ou estilhaços provenientes dos combates militares.
A primeira morte conhecida de um jornalista no conflito seguiu esse padrão. Em 1º de março, Ievgueni Sakun, cinegrafista do canal Kiev Live TV, foi morto em um bombardeio a uma torre de rádio e televisão na capital ucraniana. “Mirar jornalistas é um crime de guerra”, disse a organização Repórteres Sem Fronteiras na ocasião.
“Jornalistas, como civis, nunca são alvos legítimos em uma zona de conflito, e isso significaria que um ataque deliberado a um jornalista seria uma violação do direito internacional e que os responsáveis precisariam ser responsabilizados”, afirmou Scott Griffen, vice-diretor do Instituto Internacional de Imprensa, à rede alemã Deutsche Welle.
Nesta quinta, a vice-presidente de Valores e Transparência da Comissão Europeia, Vera Jourova, defendeu, em uma conferência sobre liberdade de imprensa, a existência de leis que protejam jornalistas.
À DW Griffen ressaltou que a principal medida para diminuir o número de assassinatos de jornalistas passa pela responsabilização dos culpados. “Parece muito simples, mas não é. Sabemos que em pelo menos 90% dos casos em que jornalistas são assassinados, os responsáveis não são punidos”, afirmou.
“A falha em responder rapidamente aos ataques a jornalistas e punir os responsáveis pelos ataques cria o que chamamos de ciclo de violência, um ciclo de impunidade em que os responsáveis sentem que podem agir sem consequências, e vemos isso como um convite para atacar jornalistas.”